Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 15 de março de 2014

Entrevista de D. Georg Gänswein à ZDF em alemão e não legendada



Mais informação em alemão, inglês e italiano em http://www.georgganswein.com/

Partida de Braga para a Beatificação Álvaro del Portillo - MADRID


Igreja brasileira critica aspectos sociais e económicos do Mundial

O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que reúne a presidência e os presidentes dos regionais e das comissões da instituição, aprovou uma mensagem sobre o Campeonato do Mundo de 2014.

Para os bispos, o Mundial de Futebol representa uma "ocasião para refletir com a sociedade sobre as relações pacíficas e culturais entre todos os povos, bem como sobre os aspectos sociais e económicos que envolvem o desporto que é harmonia, desde que o dinheiro e o sucesso não prevaleçam como objecto final, conforme alerta o Papa Francisco".

Desta forma, a Igreja brasileira lamenta que, na preparação para a prova, "esse último aspecto tenha prevalecido sobre os demais, motivando manifestações populares que acertadamente reivindicam a soberania do país, o respeito aos direitos dos mais vulneráveis e efetivas políticas públicas que eliminem a miséria, estanquem a violência e garantam vida com dignidade para todos".

O documento ressalva que o desporto é "um direito humano de especial valor, necessário a uma vida saudável, não devendo ser negligenciado por nenhum povo". Reconhece ainda que que "de todos os desportos, o povo brasileiro nutre paixão pelo futebol" o que explica a "expectativa e a alegria com que a maioria dos brasileiros aguarda pelo Mundial.

Na mensagem, a Igreja brasileira deixa claro que sendo "fiel à sua missão evangelizadora, acompanha, com presença amorosa, materna e solidária, esse grande evento que reunirá vários países e protagonizará a oportunidade de um congraçamento universal, na alegria que o desporto pode trazer ao espírito humano, bem como os valores mais profundos que é capaz de nutrir”.

Na mensagem, o Conselho Nacional "solidariza-se com "os que, por causa das obras do Mundial, foram feridos na sua dignidade e visitados pela dor da perda de entes queridos". A mensagem sublinha também que "não se pode admitir que o Mundial de Futebol aprofunde as desigualdades urbanas e a degradação ambiental e justifique a instauração progressiva de uma institucionalidade de excepção, mediante decretos, medidas provisórias, portarias e resoluções".

A Igreja brasileira reforça que "o sucesso do Campeonato do Mundo não se medirá pelos valores que injectará na economia local ou pelos lucros que proporcionará aos seus patrocinadores. O êxito estará na garantia de segurança para todos sem o uso da violência, no respeito ao direito às pacíficas manifestações de rua, na criação de mecanismos que impeçam o trabalho escravo, o tráfico humano e a exploração sexual, sobretudo, de pessoas socialmente vulneráveis e combatam eficazmente o racismo e a violência".

A mensagem é assinada pelo Cardeal Raymundo Damasceno Assis (Arcebispo de Aparecida e Presidente do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom José Belisário da Silva, (Arcebispo de São Luís do Maranhão) e Dom Leonardo Ulrich Steiner (Bispo Auxiliar de Brasília).

(Fonte: site Rádio Renascença AQUI)

REQUIEM PELO PATRIARCA EMÉRITO

Foi ontem a sepultar, no Mosteiro de São Vicente de Fora, o Cardeal D. José da Cruz Policarpo, Patriarca emérito de Lisboa, diocese que governou durante quinze anos. Antes, tinha sido bispo auxiliar e administrador apostólico do patriarcado e também reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP). Foi repetidas vezes presidente da Conferência Episcopal e consultor de vários dicastérios da Santa Sé. Participou activamente nos conclaves em que foram eleitos os Papas Bento XVI e Francisco.

Os muitos serviços prestados pelo Cardeal Policarpo à Igreja e, em especial, ao patriarcado de Lisboa, não cabem nestas breves linhas. Como teólogo e, mais tarde, como bispo, patriarca e cardeal, D. José Policarpo deixa uma vasta obra que outros, melhor do que eu, saberão ajuizar e a que o futuro certamente fará justiça.
Embora o tivesse seduzido a vida prosaica de padre de aldeia, o seu perfil intelectual não lhe permitiu essa modalidade pastoral, porque a Igreja lhe pediu outros serviços, nomeadamente como docente e director da faculdade de Teologia da UCP e, mais tarde, seu reitor.

O Cardeal Policarpo foi substituído, na reitoria universitária, pelo Professor Manuel Braga da Cruz. Numa recente homenagem a este último, o seu predecessor no cargo frisou a importância de ter sido sucedido por um leigo, o primeiro a ocupar a presidência de uma tão prestigiada instituição de ensino superior. Era esta, com efeito, uma sua preocupação pastoral: a promoção do laicado católico, por forma a assumir as suas responsabilidades na vida da Igreja e do mundo.

Os leigos, como recordou o concílio Vaticano II, não têm um papel secundário no apostolado eclesial, não podem ser meros instrumentos do clero, nem muito menos a sua ‘longa manus’ naqueles ambientes em que a condição clerical não é pertinente. Na base de uma sólida formação doutrinal e de uma comprovada coerência de vida cristã, os fiéis leigos devem agir, em nome próprio e com responsabilidade pessoal, em todos os âmbitos da actividade social, política, económica, cultural, desportiva, etc. Não sendo os representantes oficiais da Igreja, nem os mandatários da hierarquia, são contudo a presença de Cristo no mundo do trabalho, onde agem como o fermento no meio da massa.

Como se tem visto recentemente no nosso país – recordem-se os tristes casos das leis do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo – a sociedade portuguesa carece de um laicado mais interventivo, que seja capaz de dar, pela sua competência profissional e prestígio moral, um contributo válido para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. A comprovada incapacidade dos partidos políticos tradicionais implementarem a doutrina social da Igreja requer, com urgência, a intervenção de cristãos e de outros cidadãos de boa vontade que pugnem, sem tibiezas, por esses valores.

Não é possível evocar D. José Policarpo sem referir o seu bom humor: a alguém que o sondara sobre a possibilidade de vir a ser eleito Papa, respondeu que tinha mais hipóteses do que uma sua irmã… Apreciava a ironia e contava graças que nunca eram meras anedotas, porque portadoras de uma mensagem de esperança e de fé. Fico-lhe a dever algumas atenções e sugestões até de possíveis crónicas, porque era não só um leitor atento, mas também um crítico perspicaz.

Na muito justa homenagem ao Prof. Braga da Cruz, o Cardeal Policarpo contou o divertido comentário de uma piedosa senhora a um sermão de um esforçado pregador: ‘– Coitado, fez o que pôde!’ D. José da Cruz Policarpo, Patriarca emérito de Lisboa, fez muito mais do que podia, embora pudesse tanto, nos múltiplos cargos em que serviu a Igreja. Porque assim foi de facto, consola-nos a certeza de que já terá recebido, do Senhor da messe, o prémio prometido aos servos bons e fiéis.

Gonçalo Portocarrero de Almada
jornal i - 15 março 2014
http://www.ionline.pt/iopiniao/requiem-pelo-patriarca-emerito

«Este é o Meu Filho muito amado»

Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria, Doutor da Igreja 
Opera Omnia, p. 41

Simão Pedro diz: «Senhor, é bom estarmos aqui». Que dizes, Pedro? Se ficarmos aqui, quem realizará então o que predisseram os profetas. Quem confirmará as palavras dos arautos? Quem levará a bom termo os mistérios dos justos? Se ficarmos aqui, a quem se referirão as palavras: «Trespassaram as Minhas mãos e os Meus pés»? A quem se aplicarão as afirmações: «Repartiram entre si as Minhas vestes e deitaram sortes sobre a Minha túnica»? (Sl 21, 17.19;Jo 19, 24). Quem realizará o anúncio do salmo: «Deram-Me fel, em vez de comida, e vinagre, quando tive sede»? (68, 22; Mt 27, 34; Jo 19, 29) Quem dará vida à expressão: «Estou abandonado entre os mortos»? (Sl 87,6) Como se consumarão as Minhas promessas, como construiremos a Igreja?

E Pedro diz mais: façamos «aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias». Enviado para erigir a Igreja no mundo, Pedro quer levantar três tendas na montanha. Ainda não vê a Cristo senão como homem e classifica-O juntamente com Moisés e com Elias. Mas Jesus em breve lhe mostra que não precisa de tenda. Fora Ele que, durante quarenta anos, erguera para os Patriarcas uma tenda de nuvem, enquanto eles permaneciam no deserto (Ex 40, 34).

«Ainda ele estava a falar, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra». Vês, Simão, esta tenda montada sem esforço? Ela afasta o calor sem comportar as trevas, é uma tenda brilhante e resplandecente! Enquanto os discípulos estão surpresos, uma voz vinda do Pai faz-Se ouvir da nuvem: «Este é o Meu Filho muito amado, no qual pus todo o Meu agrado. Escutai-o.» [...] O Pai ensinava aos discípulos que a missão de Moisés estava concluída: de então em diante é ao Filho que deverão escutar. O Pai, na montanha, revelava aos apóstolos aquilo que ainda lhes estava oculto: «Aquele que é» revelava «Aquele que é» (Ex 3, 14), o Pai dava a conhecer o Seu Filho.

O Evangelho de Domingo dia 16 de março de 2014

Seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os à parte a um monte alto, e transfigurou-Se diante deles. O Seu rosto ficou refulgente como o sol, e as Suas vestes tornaram-se luminosas de brancas que estavam. Eis que lhes apareceram Moisés e Elias falando com Ele. Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: «Senhor, que bom é nós estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas, uma para Ti, uma para Moisés, e outra para Elias». Estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem resplandecente os envolveu; e saiu da nuvem uma voz que dizia: «Este é o Meu Filho muito amado em Quem pus toda a Minha complacência; ouvi-O». Ouvindo isto, os discípulos caíram de bruços, e tiveram grande medo. Porém, Jesus aproximou-Se deles, tocou-os e disse-lhes: «Levantai-vos, não temais». Eles, então, levantando os olhos, não viram ninguém, excepto só Jesus. Quando desciam do monte, Jesus fez-lhes a seguinte proibição: «Não digais a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos».

Mt 17, 1-9

"Hipócra(i)te(a)s" de Catarina Nicolau Campos

Devido à ausência do meu obstetra por se encontrar no estrangeiro, e por razões de força maior, dirigi-me a um Hospital privado de Lisboa, (o mesmo Hospital onde, aliás, tive a minha bebé e fui tratada de um modo muito digno e cuidado), para ser observada nas Urgências.

Fui atendida por uma médica na casa dos 30, que eu não conhecia, e que começou a consulta com uma pergunta simples, “qual é a contracepção que usa?”

Julgo que a minha resposta “nenhuma” foi a pedra de toque para o que se passou a seguir. Perguntou-me porquê, já com um ar horrorizado, e retorqui-lhe que não tinha qualquer interesse em fazê-lo. A partir daí a conversa mudou, e tudo o que disse esta médica desde então foi sempre ou num tom irónico e irado, ou então num tom ameaçador.

Dado que tive uma cesariana há pouco tempo e é aconselhável um intervalo de um ano e meio em relação à próxima gravidez, questionou-me acerca do método que utilizava. Expliquei-lhe que era o método natural, aquele que implicava abstinência sexual durante o período fértil. Drama dos dramas.

Decidiu discorrer então sobre a ineficácia, segundo o que ela tinha aprendido, claro está, do meu método, referindo que esse era o método utilizado pelas nossas avós, que tinham 13, 14 , 15 filhos. (Duvido, com toda a reverência que tenho pelas nossas matriarcas, que soubessem o que era o muco cervical, e quem me dera a mim ter 15 filhos, mas com médicos assim é sempre a aprender).

Voltou a inquirir porque razão eu não tomava a pílula ou não usava o preservativo. Disse-lhe então que procurava que o meu casamento fosse construído sobre o amor, e que portanto estávamos abertos à vida.

“Os bebés são muito bem-vindos lá em casa. E, consecutivamente, nada faremos para destruir a Vida”. Destruir? Sim, disse-lhe eu, destruir a vida, porque a pílula pode ser abortiva. “O quê???” (Olhar ultra escandalizado). E eu ia explicar-lhe como, mas não me deixou. Disse, elevando a voz “aqui a médica sou eu, e portanto não vai discutir isso comigo e ponto final.”

Claro que no final, as insinuações de fanatismo religioso e o discurso políticamente correcto, mas de sinceridade duvidosa, de que o dever dos médicos é de informar, e que na opinião dela eu estava muito mal informada, mas que enquanto médica nada tinha a ver com as minhas “convicções religiosas ou éticas” imperou.

Entrei ansiosa porque estava doente e desconhecia as causas. Saí triste, desanimada e continuei doente. Sim, porque no meio desta batalha, teve 30 segundos para me dizer que não conseguia ver nada, melhor mesmo era que o meu médico me examinasse quando voltasse.

E contudo, o problema não foi isto ter acontecido comigo. O problema é que isto, e pior, acontece nos hospitais todos os dias, com raparigas que não têm a resiliência que adquiri em alguns anos de luta pela Cultura da Vida. Nem têm que ter. O que têm, e temos todos que ter, por direito, é médicos bem formados, científica e humanamente.

Médicos que saibam respeitar os doentes que assistem, sem se colocar numa posição de hegemonia que não tem qualquer fundamento. Entender que a Medicina, tal como as restantes profissões, é um serviço à Vida, é mister na sociedade hodierna. E há médicos assim, justiça seja feita. Mas também os há assado, e tivesse sido outra rapariga, provavelmente teria saído das urgências aviada de pílulas e preservativos, coisa que me custa a crer que cumpra o objectivo da Medicina..

Ou seja, há os de Hipócrates e os hipócritas, e desses não deve rezar a História.

(Fonte: blogue ‘Senza’ de João Silveira em 2012 AQUI)

A conversão, uma consequência da liberdade religiosa

A famosa conversão ao cristianismo [em 2008] de Magdi Allan, jornalista italiano de origem egípcia e muçulmano subdirector do 'Corriere della Sera', pôs em primeiro plano alguns equívocos no diálogo entre a Igreja e o Islão. A conversão será uma ferida na sensibilidade islâmica ou um modo de exprimir a liberdade religiosa cujo reconhecimento se exige aos países muçulmanos?

Com a solene Vigília Pascal celebrada por Bento XVI em 2010, a Semana Santa católica chegava ao seu ponto culminante. Uma semana de Paixão que começara com uma má notícia: o assassinato no Iraque do bispo caldeu católico de Mossul, Bulos Faray Raho. O próprio Bento XVI manifestou visivelmente a sua dor sobre o altar da Praça de S. Pedro, na perturbada festa do Domingo de Ramos, e na Terça-feira Santa celebrou pessoalmente exéquias pelo prelado iraquiano. Um novo episódio de dor na história da perseguição aos cristãos nalguns países islâmicos.

Poucos dias depois, o Papa derramava as águas do Baptismo sobre a cabeça do muçulmano Magdi Allam. Sucessos isolados ou imagem gráfica da relação entre o Islão e o Cristianismo?

Vias de entendimento

No passado mês de Outubro mais de uma centena de intelectuais e líderes religiosos do mundo islâmico remetiam uma carta a Bento XVI para lhe propor um renovado esforço de entendimento entre católicos e muçulmanos. No mês de Fevereiro uma delegação foi recebida em audiência pelo Santo Padre e fixou-se a continuação das conversações numa reunião de diálogo inter-religioso prevista para os próximos meses (cf. Aceprensa na edição impressa)

Um dos signatários da carta, Sergio Yabe Pallavicini, imã da mesquita alWahid de Milão, depois de ouvir a notícia da conversão de Allam comentou: "o que me surpreende é o relevo que o Vaticano deu a esta conversão". Romper-se-á então o diálogo? Por parte dos católicos é evidente que não, pois o Papa tem manifestado inumeráveis vezes a sua decisão não só de o manter mas de o intensificar num contexto de reciprocidade.

Além disso, a Santa Sé, em palavras do chefe da Sala de Imprensa ao referir-se às opiniões expostas por Allam no Corriere della Sera no dia seguinte ao da sua conversão, deixou claro que "acolher na Igreja um novo crente não significa evidentemente tomar como próprias todas as suas ideias e posições, sobretudo em temas políticos ou sociais". O porta-voz disse também que o itinerário de diálogo aberto deve continuar e "é de extrema importância não o interromper, sendo prioritário pelos episódios que podem acarretar mal entendidos".

Na parte islâmica, embora tenha havido críticas à notoriedade do baptismo de Allam, não se falou em encerrar as conversações. O professor de Cambridge Aref Ali Nayed, que também assinou a mencionada carta e é porta-voz das respectivas personalidades muçulmanas, afirmava numa entrevista a El Pais que "o diálogo é um dever que devemos perseguir pelo bem da humanidade". Portanto, há vontade de diálogo por ambas as partes e continua aberta esta via de entendimento. Mas, quais são os pontos chaves em que se devem apoiar os novos passos?

Bases para o diálogo

É necessário partir de três premissas iniciais. Em primeiro lugar, o Islão não conta com uma autoridade central e por isso o diálogo só pode travar-se com determinados grupos, como por exemplo, o mencionado grupo de 138 académicos e líderes islâmicos signatários da carta.

Por outro lado, o ordenamento vital do Islão não admite separação entre o aspecto político e religioso, e tem procedimentos muito diferentes dos que são próprios dos países com raízes cristãs. Na sua concepção os direitos humanos ficam submetidos à sharia ou lei religiosa islâmica, o que implica uma evidente inferioridade da mulher em relação ao homem, negação do direito a abandonar a fé islâmica, ausência de espaços livres de expressão próprios de uma sociedade pluralista, etc.

Uma terceira premissa para o diálogo é a clara consciência que cada uma das partes deve ter de si, da própria identidade, e dar a conhecer à outra a sua posição de um modo completo. Neste sentido convém ter em conta que se a parte cristã manifestasse algum inconveniente em apresentar a própria fé com toda a integridade, por medo a ofender ou decepcionar, não faria senão confirmar o interlocutor muçulmano na convicção de que o cristão é um crente "débil".

Bento XVI falou claramente, sobretudo num discurso à cúria romana no Natal de 2006, dos pontos sobre os quais se há-de apoiar esta aproximação: as conquistas da verdadeira razão - não a razão positivista que "exclui Deus da vida da comunidade e dos ordenamentos públicos" - face aos direitos do homem, especialmente os que se referem à liberdade religiosa e à dignidade da pessoa. Nesta linha, o Papa mostrou-se muito esperançado na carta que lhe foi enviada pelos líderes islâmicos, sobretudo por um aspecto: a atenção prestada pelos signatários ao duplo mandamento que convida a amar a Deus e ao próximo. Trata-se de uma crença comum de ambas as religiões, sobre a qual, segundo o Papa, se pode edificar um futuro entendimento.

Igrejas e mesquitas

Outro aspecto importante em que se tem insistido é o da reciprocidade, em que há acordo em linhas gerais, mas em concreto é fonte habitual de desencontros. Um exemplo significativo é o que conta o Corriere della Sera numa entrevista a Nura, uma Islamita culta convertida ao cristianismo que vive em Itália: "Hoje não existe direito à reciprocidade. O cristão que se converte ao Islão não tem medo. É como se sentisse bem protegido pelas costas. Nós, pelo contrário, temos de esconder-nos. Temos verdadeiro pavor. Eu sinto terror quando entro na igreja e escolho habitualmente uma paróquia afastada do bairro onde vivo. Estou muito atenta para não ser vista. Mas não deixo de ir à igreja, porque creio deveras".

Recentemente um país islâmico - Qatar - permitiu que se construísse um templo católico no seu território: grande novidade! Mas simultaneamente a casa real da Arábia Saudita não concedeu autorização para que existisse culto católico no país, embora se estime que haja uns oitocentos mil imigrantes católicos no seu território. E na Argélia foram encerradas várias igrejas evangélicas, com a acusação de procurar conversões ao cristianismo.

Por sua vez, os imigrantes muçulmanos em países europeus queixam-se dos obstáculos que encontram para construir mesquitas, embora frequentemente as dificuldades sejam mais de tipo económico que administrativo.

Conversão e reciprocidade

Liberdade religiosa, como direito humano inalienável, e reciprocidade entrelaçam-se no caso da conversão. É por isto que a conversão de Allam adquire uma significativa força expressiva. Assim como os muçulmanos podem convidar à conversão os cristãos no Ocidente, também os cristãos deveriam poder expor a sua fé aos muçulmanos nos países islâmicos. Mas, para já, não é assim. Segundo Shamir Kahalil Samir, jesuíta egípcio, especialista em Islamismo, "o baptismo de Magdi Allam pelo Papa não é um acto de agressão, mas uma exigência de reciprocidade. É uma provocação tranquila, que serve apenas para fazer pensar e despertar".

A conversão de um muçulmano a outra religião é considerada pelo Islão como uma traição à comunidade dos verdadeiros crentes. A liberdade religiosa concebe-se, portanto, como liberdade de aderir à verdadeira religião, que é o Islão, enquanto a passagem para outros credos está terminantemente proibida. Embora a pena derivada da transgressão desta máxima varie consoante as escolas e tradições, a corrente preponderante considera que a pena devida é a morte. Esta é a interpretação dominante dos 14 versículos do Alcorão que sancionam a apostasia, 13 dos quais falam de "um castigo muito doloroso no outro mundo" e só um deles menciona "um tormento muito doloroso neste mundo e no outro".

Uma tendência liberal minoritária entre os muçulmanos pensa, no entanto, que Maomé não pediu nunca que se matasse o apóstata, e inclusive interveio num dos casos para impedir que os seus o fizessem.

Portanto, embora o recurso à pena de morte não pareça ter um apoio suficiente nos textos do Alcorão, várias razões incitam actualmente à sua extensão nos países islâmicos. Segundo Samir Khalil Samir, professor da história da cultura árabe e de estudos islâmicos na universidade de Saint Joseph (Líbano), a razão está no chamado "despertar islâmico" que recuperou antigas afirmações históricas, animando "os que apoiam as correntes radicais a pressionar para que seja castigado com severidade quem abandonar o Islão". E o que é mais grave, num mundo global e com uma religião tão diversificada em escolas como a islâmica, as ameaças aos convertidos que abandonam o Islão estendem-se já a qualquer país.

Que acontece quando o caminho da conversão se percorre em sentido inverso? Correm riscos os que passam do cristianismo ao Islão? De novo a voz de Ali Nayed: "Creio que se uma autoridade muçulmana escolhesse um convertido fortemente anti-cristão e o exibisse numa grande cerimónia transmitida pela televisão e este publicasse além disso um artigo anti-cristão repleto de ódio, muitos cristãos ficariam aborrecidos. As pessoas convertem-se constantemente em ambas as direcções".

Um direito reconhecido no Ocidente

Mas para além de suposições, neste caso a velha máxima (no news, good news) é a melhor garantia do que acontece: nada. Nos países de raízes cristãs a possibilidade de aderir a outra religião e dela fazer pública confissão está garantida pelo clima de liberdade religiosa. De facto a doutrina do magistério católico é clara e incide na reciprocidade: "A Igreja proíbe severamente que alguém seja obrigado a abraçar a fé, ou a ela seja aliciado ou induzido por processos importunos, da mesma maneira que reivindica com firmeza o direito de ninguém ser dela afastado por vexames injustos" (Concílio Vaticano II, Decreto Ad gentes, n.13).

A posição cristã relativamente à liberdade religiosa e à conversão é portanto bem diferente da islâmica. Como explica Samir Khahlil Samir "é necessário garantir a liberdade de evangelização (tabshîr), assim como a liberdade de islamizar (da´wa). Para mim, o cristianismo é a mais bela e a mais perfeita religião, e o Islão, tendo muitas coisas boas, não é o cumprimento do projecto divino sobre o homem. Ao mesmo tempo admito que o muçulmano esteja convencido do contrário e está no seu pleno direito. Mais ainda: é seu dever! Esta é a verdadeira reciprocidade: cada um segue a sua consciência e procura iluminar cada vez mais os outros".

Miguel Ángel Sánchez de la Nieta
Aceprensa

Amar os inimigos

Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja 
Manuscrito autobiográfico C 13 v°-14 r°


Há na comunidade uma irmã que tem o talento de me desagradar em todas as coisas; os seus modos, as suas palavras, o seu carácter eram-me muito desagradáveis. No entanto é uma santa religiosa que deve ser muito agradável ao bom Deus; assim, não querendo ceder à antipatia natural que sentia, disse a mim própria que a caridade não devia ser composta por sentimentos, mas por obras. Decidi então fazer por esta irmã aquilo que faria pela pessoa que mais amasse. Cada vez que a encontrava rezava ao Senhor por ela, oferecendo-Lhe todas as suas virtudes e méritos. Sentia que isso agradava a Jesus, pois não existe artista que não goste de receber louvores pelas suas obras e Jesus, o artista das almas, fica feliz quando não nos detemos no exterior mas, penetrando até ao santuário íntimo que Ele escolheu para morar, admiramos a sua beleza.

Não me contentava em rezar muito pela irmã que me suscitava tantos combates, obrigava-me a fazer-lhe todos os favores possíveis e, quando tinha a tentação de lhe responder de modo desagradável, contentava-me em lhe fazer o meu sorriso mais amável e fazia por desviar a conversa. […] E também muitas vezes […], tendo algumas relações de trabalho com essa irmã, quando os embates eram demasiado violentos, fugia como um desertor. Como ela ignorava totalmente o que eu sentia por ela, nunca desconfiou dos motivos da minha conduta e continua persuadida de que o seu carácter me agrada. Um dia, no recreio, disse-me mais ou menos estas palavras com um ar muito contente: «Pode dizer-me, irmã Teresa do Menino Jesus, o que a atrai tanto em mim, pois de cada vez que olha para mim vejo-a sorrir?» Ah, o que me atraía era Jesus, escondido no fundo da sua alma. Jesus torna doces as coisas mais amargas.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 15 de março de 2014

«Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. Deste modo sereis filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o sol sobre maus e bons, e manda a chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais somente os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de especial? Não fazem também assim os próprios gentios? Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito.


Mt 5, 43-48