Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 31 de julho de 2015

«Não é Ele o filho do carpinteiro?»

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja 
II homília sobre as palavras do Evangelho: «O anjo Gabriel foi enviado», § 16


Irmãos lembrai-vos do patriarca José [...], de quem José, o esposo de Maria, herdou não apenas o nome mas também a castidade, a inocência e as graças. [...] O primeiro recebeu do céu a interpretação dos sonhos (Gn 40;41); o segundo não só teve conhecimento dos segredos do céu, como teve a honra de neles participar. O primeiro providenciou o sustento a todo um povo, fornecendo-lhe trigo em abundância (Gn 41,55); o segundo foi estabelecido como guardião do pão vivo que veio para dar pessoalmente a vida ao mundo inteiro (Jo 6,51). Não há dúvida de que José, que foi noivo da mãe do Salvador, foi um homem bom e fiel, ou antes, o «servo bom e fiel» (Mt 25,21) que o Senhor colocou à frente da Sua família para ser a consolação de Sua mãe, o pai nutrício da Sua humanidade, o colaborador fiel no Seu desígnio para o mundo.

E era da casa de David [...], descendente da estirpe real, nobre por nascimento, mas ainda mais nobre de coração. Sim, era verdadeiramente filho de David, não apenas pelo sangue, mas pela sua fé, pela sua santidade, pelo seu fervor no serviço de Deus. Em José o Senhor encontrou verdadeiramente, como em David, «um homem segundo o Seu coração» (1Sm 13,14) a quem pôde confiar, com toda a segurança, o maior segredo do Seu coração. Ele revelou-lhe «a sabedoria que instrui no segredo» (Sl 50, 8), deu-lhe a conhecer uma maravilha que nenhum dos príncipes desta terra conheceu; concedeu-lhe, enfim, ver o que «muitos profetas e reis quiseram ver [...] e não viram», escutar o que muitos queriam «ouvir [...] e não ouviram!» (Lc 10,24). E não apenas vê-Lo e ouvi-Lo, mas também levá-Lo nos braços, conduzi-Lo pela mão, apertá-Lo ao coração, abraçá-Lo, alimentá-Lo e cuidar d'Ele.

O Evangelho do dia 31 de julho de 2015

E, indo para a Sua terra, ensinava nas sinagogas, de modo que se admiravam e diziam: «Donde Lhe vem esta sabedoria e estes milagres? Porventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chama Sua mãe Maria, e Seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde, pois, Lhe vêm todas estas coisas?». E estavam perplexos a Seu respeito. Mas Jesus disse-lhes: «Não há profeta sem prestígio a não ser na sua terra e na sua casa». E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.

Mt 13, 54-58

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Obediência

«Neste mundo, temos de opor-nos às ilusões de falsas filosofias e reconhecer que não vivemos só de pão, mas primariamente de obediência à palavra de Deus. E somente onde esta obediência for vivida é que nascem e crescem aqueles sentimentos que permitem remediar também pão para todos».

(Joseph Ratzinger / Bento XVI - “Jesus de Nazaré”)

Somos nós que optamos

Bento XVI Encíclica «Spe Salvi», nos. 45-46

Com a morte, a opção de vida feita pelo homem torna-se definitiva; a sua vida está diante do Juiz. A sua opção, que tomou forma ao longo de toda a vida, pode ter características diversas. Pode haver pessoas que destruíram totalmente em si próprias o desejo da verdade e a disponibilidade para o amor; pessoas nas quais tudo se tornou mentira; pessoas que viveram para o ódio e espezinharam o amor em si mesmas. Trata-se de uma perspectiva terrível, mas algumas figuras da nossa história deixam entrever, de forma assustadora, perfis deste género. Em tais indivíduos, não haverá nada de remediável e a destruição do bem parece ser irrevogável: é já isto que se indica com a palavra «inferno».

Por outro lado, podem existir pessoas puríssimas, que se deixaram penetrar inteiramente por Deus e, consequentemente, estão totalmente abertas ao próximo – pessoas em quem a comunhão com Deus orienta desde já todo o seu ser e cuja chegada a Deus apenas leva a cumprimento aquilo que já são.

Mas, segundo a nossa experiência, nem um nem outro são o caso normal da existência humana. Na maioria dos homens – como podemos supor – perdura, no mais profundo da sua essência, uma derradeira abertura interior para a verdade, para o amor, para Deus. Nas opções concretas da vida, porém, aquela é sepultada sob repetidos compromissos com o mal. [...] O que acontece a tais indivíduos quando comparecem diante do Juiz? [...] Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo dá-nos uma ideia da distinta repercussão do juízo de Deus sobre o homem, conforme as suas condições: «Se alguém edifica sobre este fundamento com ouro, prata, pedras preciosas, madeiras, feno ou palha, a obra de cada um ficará patente, pois o dia do Senhor a fará conhecer. Pelo fogo será revelada, e o fogo provará o que vale a obra de cada um. Se a obra construída subsistir, o construtor receberá a paga. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá a perda. Ele, porém, será salvo, como que através do fogo» (3, 12-15).

O Evangelho do dia 30 de julho de 2015

«O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha toda a espécie de peixes. Quando está cheia, os pescadores tiram-na para fora e, sentados na praia, escolhem os bons para cestos e deitam fora os maus. Será assim no fim do mundo: virão os anjos e separarão os maus do meio dos justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Compreendestes tudo isto?». Eles responderam: «Sim». Ele disse-lhes: «Por isso todo o escriba instruído nas coisas do Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas». Quando Jesus acabou de dizer estas parábolas partiu dali.

Mt 13, 47-53

quarta-feira, 29 de julho de 2015

«Quem crê em Mim viverá»

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Sermões sobre o Evangelho de João, n° 49, 15

«Quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá para sempre.» Que quer isto dizer? «Quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido como Lázaro, viverá», porque Deus não é um Deus de mortos mas um Deus de vivos. Já a propósito de Abraão, de Isaac e de Jacob, os patriarcas há muito mortos, Jesus tinha dado aos judeus a mesma resposta: «Eu sou o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob; não um Deus dos mortos, mas dos vivos, porque para Ele todos estão vivos» (cf. Lc 20, 38). Por isso, crê e, mesmo que estejas morto, viverás! Mas se não crês, mesmo que estejas vivo, na verdade estás morto. [...] De onde vem a morte da alma? Vem do facto de a fé já lá não estar. De onde vem a morte do corpo? Vem do facto de a alma já lá não estar. A alma da tua alma é a fé.

«Quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido no seu corpo, terá a vida na sua alma até que o próprio corpo ressuscite para nunca mais morrer. E quem vive na sua carne e crê em Mim, embora tenha de morrer durante algum tempo no seu corpo, não morrerá para a eternidade, devido à vida do Espírito e à imortalidade da ressurreição.»

É isto que Jesus quer dizer na Sua resposta a Marta. [...] «Crês nisto?» «Sim, ó Senhor, respondeu ela, eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo. E, acreditando nisto, acreditei que és a ressurreição, acreditei que és a vida, acreditei que aquele que crê em Ti, mesmo que morra, viverá; acreditei que quem está vivo e crê em Ti não morrerá para a eternidade.»

O Evangelho do dia 29 de julho de 2015

Muitos judeus tinham ido ter com Marta e Maria, para as consolarem pela morte de seu irmão. Marta, pois, logo que ouviu que vinha Jesus, saiu-Lhe ao encontro; e Maria ficou sentada em casa. Marta disse então a Jesus: «Senhor, se estivesses cá, meu irmão não teria morrido. Mas também sei agora que tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». Jesus disse-lhe: «Teu irmão há de ressuscitar». Marta disse-Lhe: «Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição do último dia». Jesus disse-lhe: «Eu sou a ressurreição e a vida; aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá eternamente. Crês isto?». Ela respondeu: «Sim, Senhor, eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que vieste a este mundo».

Jo 11, 19-27

terça-feira, 28 de julho de 2015

«A boa semente são os filhos do Reino»

Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
A Simple Path

Não existem dois mundos, o mundo físico e o mundo espiritual; há apenas um: o Reino de Deus, «na Terra como no céu» (Mt 6, 10).

Muitas pessoas dizem: «Pai Nosso que estais no céu», e pensam que Deus está lá em cima, o que reforça a ideia de uma separação entre os dois mundos. Os ocidentais gostam de distinguir a matéria do espírito. Mas a verdade é só uma, e o mesmo acontece com a realidade. Desde o momento em que admitimos a incarnação de Deus, que para os cristãos se realiza na pessoa de Jesus Cristo, começamos a levar as coisas a sério.

O Evangelho do dia 28 de julho de 2015

Então, despedido o povo, foi para casa, e chegaram-se a Ele os Seus discípulos, dizendo: «Explica-nos a parábola do joio no campo». Ele respondeu: «O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino. O joio são os filhos do Maligno. O inimigo que o semeou é o demónio. O tempo da ceifa é o fim do mundo. Os ceifeiros são os anjos. De maneira que, assim como é colhido o joio e queimado no fogo, assim acontecerá no fim do mundo. O Filho do Homem enviará os Seus anjos e tirarão do Seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade, e lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então resplandecerão os justos como o sol no reino de seu Pai. O que tem, ouvidos para ouvir, oiça.

Mt 13, 36-43

segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Facebook pode ser benéfico

Muitos são os que olham para o Facebook com reservas e que em muitos casos são perfeitamente justificadas. Desde logo, os conceitos éticos que guiam e regulam a plataforma são fortemente questionáveis, os seus mentores defendem causas violadoras dos mais elementares princípios católicos, seria no entanto imitar as avestruzes negando-lhe a dimensão e o alcance que tem.

Então o que fazer, perguntar-se-ão os céticos, desde logo ter muito cuidado na configuração da conta, sobretudo a quem permitimos publicar na nossa página, ou simplesmente vedar tal hipótese a todo e qualquer leitor, restringir o acesso a quem aceitámos como 'amigos' e se nos enganarmos não ter pruídos de banir quem violou a nossa confiança.

Se entende que não quer ver a sua fotografia publicada, escolha uma imagem neutra, e.g.: a minha mulher usa uma fotografia de canas de bambu, pode abrir conta sem preencher a maior parte dos itens do perfil cingindo-se a pôr o sexo e a data de nascimento.

O anteriormente explicado aplica-se sobretudo a páginas pessoais, o caso do ‘Spe Deus’ que está registado como Comunidade rege-se por critérios diversos com a opção de permitir a publicação apenas do seu editor, debate-se ainda assim com o problema dos comentários, que com origem no Brasil são muito frequentes os ataques a Nossa Senhora obrigando a uma redobrada atenção e a sem contemplações eliminá-los e banir o seu autor.

O ‘Spe Deus’ é uma micro realidade com pouco mais de 22.800 gostos no contexto das páginas católicas, o conhecido teólogo Scott Hahn tem uma página com mais de 270.000 gostos e a página do Padre Paulo Ricardo tem mais de 983.000, mas estou certo que além de estarmos unidos na mesma fé estaremos de acordo que o Facebook é uma ferramenta que ajuda na evangelização que diariamente muitos milhares, diria mesmo dezenas ou centenas de milhar, vêem e leem consolidando a sua fé aprendendo e descobrindo novas formas de a viver.

Que Deus Nosso Senhor nos ilumine a todos para que saibamos usar as ferramentas que se encontram ao nosso dispor, evitando os truques do demónio que está sempre à espreita para nos enganar.

JPR

Aconteceu nesta data há 75 anos

A 27 de julho de 1940, há 75 anos nesta data São Josemaría andou de avião pela 1º vez (Fonte: Univ. Navarra)

«Até que tudo fique fermentado»

São Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975), presbítero, fundador
Homilia em «Amigos de Deus», §§ 8-9


Tenho vontade de recordar a grandeza de atuar com espírito divino no cumprimento fiel das obrigações habituais de cada dia, com essas lutas que enchem Nosso Senhor de alegria e que só Ele e cada um de nós conhece. Convencei-vos de que normalmente não encontrareis ocasiões para grandes façanhas, entre outros motivos porque não é habitual que surjam essas oportunidades. Pelo contrário, não faltam ocasiões para demonstrarmos o nosso amor a Jesus Cristo através do que é pequeno, do normal. [...]

Ao meditar as palavras de Nosso Senhor: «Por amor deles santifico-Me a Mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade» (Jo 17,19), percebemos claramente o nosso único fim: a santificação, isto é, que temos de ser santos para santificar. Simultaneamente, como tentação subtil, talvez nos assalte o pensamento de que muito poucos estamos decididos a responder a esse convite divino, além de nos vermos como instrumentos de muito fraca categoria. É verdade, somos poucos, em comparação com o resto da humanidade e pessoalmente não valemos nada; mas a afirmação do Mestre ressoa com autoridade: o cristão é luz, sal, fermento do mundo e «um pouco de fermento faz levedar toda a massa» (Mt 5,13-14).

O Evangelho do dia 27 de julho de 2015

Propôs-lhes outra parábola, dizendo: «O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. É a mais pequena de todas as sementes, mas, depois de ter crescido, é maior que todas as hortaliças e chega a tornar-se uma árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar nos seus ramos». Disse-lhes outra parábola: «O Reino dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha até que tudo esteja fermentado». Todas estas coisas disse Jesus ao povo em parábolas; e não lhes falava sem parábolas, a fim de que se cumprisse o que estava anunciado pelo profeta, que diz: “Abrirei em parábolas a Minha boca, publicarei as coisas escondidas desde a criação do mundo”».

Mt 13, 31-35

domingo, 26 de julho de 2015

Bom Domingo do Senhor!

Sentemo-nos também nós à mesa do Senhor como fizeram as multidões que o seguiam e de que nos fala o Evangelho de hoje (Jo 6, 1-15) confiantes de que nada nos faltará. Saibamos pois, na abundância e na escassez, ter sempre a confiança de filhos, seguros que a nossa maior riqueza é tê-Lo no nosso coração.

Louvada seja Deus Nosso Senhor Jesus Cristo que nos guia e protege, assim nós o queiramos!

«Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os»

Santo Alberto Magno (c. 1200-1280), dominicano
Livro sobre o sacramento

Senhor, lavados e purificados no mais profundo de nós mesmos, vivificados pelo Teu Espírito Santo, saciados pela Tua Eucaristia, faz com que tenhamos parte na graça que tiveram os santos apóstolos e os discípulos, que receberam o sacramento das Tuas mãos. Desenvolve em nós a solicitude e a diligência para Te seguirmos como membros Teus (1Cor 12,27), para que sejamos dignos de receber de Ti o sentido e a experiência do Teu alimento espiritual. Desenvolve em nós o zelo de Pedro para destruirmos toda a vontade que seja contrária à Tua (Jo 18,10), esse zelo que Pedro concebeu durante a Ceia. [...] Desenvolve em nós a paz interior, a resolução e a alegria que foram saboreadas por São João, quando se inclinou sobre o Teu peito (Jo 13,25); que assim possamos usufruir da Tua sabedoria, que tomemos o gosto da Tua doçura, da Tua bondade. Desenvolve em nós a retidão da fé, uma esperança firme e uma caridade perfeita.

Pela intercessão de todos os santos apóstolos e de todos os Teus bem-aventurados discípulos, faz com que recebamos da Tua mão o sacramento, faz com que evitemos perseverantemente a traição de Judas, e inspira ao nosso espírito o que o Teu Espírito inspirou aos santos que estão já no céu, realizando em si mesmos a perfeição da beatitude. Concede-nos tudo isto, Tu que vives e reinas com o Pai na unidade do mesmo Espírito, desde antes de todo o começo e muito para além dos séculos. Ámen.

sábado, 25 de julho de 2015

«Este é na verdade o Profeta que devia vir ao mundo!»

Santo Hilário (c. 315-367), Bispo de Poitiers e Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de S. Mateus, 14, 11; PL 9, 999

Os discípulos dizem que têm apenas cinco pães e dois peixes. Os cinco pães significavam que estavam ainda submetidos aos cinco livros da Lei, e os dois peixes que eram alimentados pelos ensinamentos dos profetas e de João Batista. [...] Eis o que os apóstolos tinham para oferecer em primeiro lugar, uma vez que ainda se encontravam ali; e foi dali que partiu a pregação do Evangelho. [...]

O Senhor tomou os pães e os peixes. Ergueu os olhos ao céu, abençoou-os e partiu-os. Dava graças ao Pai por estar encarregado de os alimentar com a Boa Nova, após os séculos da Lei e dos profetas. [...] Os pães também são dados aos apóstolos: era por eles que os dons da graça divina deviam ser espalhados. Em seguida, as pessoas são alimentadas com os cinco pães e os dois peixes. Uma vez saciados os convivas, os bocados de pão e de peixe que sobejaram eram de tal forma abundantes que encheram doze cestos. Isto significa que a multidão fica saciada com a palavra de Deus, que provém do ensinamento da Lei e dos profetas. É a abundância do poder divino, reservado para os povos pagãos, que transborda na sequência do serviço do alimento eterno. Ela realiza uma plenitude, a do número doze, como o número dos apóstolos. Ora acontece que o número dos que comeram é o mesmo que o dos crentes vindouros: cinco mil homens (Mt 14, 21; At 4, 4).

O Evangelho de Domingo dia 26 de julho de 2015

Depois disto, passou Jesus ao outro lado do mar da Galileia, isto é, de Tiberíades. Seguia-O uma grande multidão porque via os milagres que fazia em favor dos doentes. Jesus subiu a um monte e sentou-Se ali com os Seus discípulos. Ora a Páscoa, a festa dos judeus, estava próxima. Jesus, então, tendo levantado os olhos e visto que vinha ter com Ele uma grande multidão, disse a Filipe: «Onde compraremos pão para dar de comer a esta gente?». Dizia isto para o experimentar, porque sabia o que havia de fazer. Filipe respondeu-Lhe: «Duzentos denários de pão não bastam para que cada um receba um pequeno bocado». Um de Seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse-Lhe: «Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes, mas que é isso para tanta gente?». Jesus, porém, disse: «Mandai sentar essa gente». Havia naquele lugar muita relva. Sentaram-se, pois; os homens em número de cerca de cinco mil. Tomou, então, Jesus os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre os que estavam sentados; e igualmente distribuiu os peixes, tanto quanto quiseram. Estando saciados, disse aos Seus discípulos: «Recolhei os pedaços que sobraram para que nada se perca». Eles os recolheram, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que tinham comido. Vendo então aqueles homens o milagre que Jesus fizera, diziam: «Este é verdadeiramente o profeta que deve vir ao mundo». Jesus, sabendo que O viriam arrebatar para O fazerem rei, retirou-Se de novo, Ele só, para o monte.

Jo 6, 1-15

O Evangelho do dia 25 de julho de 2015

Então, aproximou-se d'Ele a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos, prostrando-se, para Lhe fazer um pedido. Ele disse-lhe: «Que queres?». Ela respondeu: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem no Teu reino, um à Tua direita e outro à Tua esquerda». Jesus disse: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?». Eles responderam-Lhe: «Podemos». Disse-lhes: «Efectivamente haveis de beber o Meu cálice, mas, quanto a sentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda, não pertence a Mim concedê-lo; será para aqueles para quem está reservado por Meu Pai». Os outros dez, ouvindo isto, indignaram-se contra os dois irmãos. Mas Jesus chamou-os e disse-lhes: «Vós sabeis que os príncipes das nações as subjugam e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós, mas todo aquele que quiser ser entre vós o maior, seja vosso servo, e quem quiser ser entre vós o primeiro, seja vosso escravo. Assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida para resgate de todos».

Mt 20, 20-28

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Não odiar a Isabel e o Miguel

Só quando olharmos para algumas pessoas como nossos inimigos é que podemos, enquanto cristãos, orar por elas pedindo a Deus que nos faça ter-lhes amor. Quero ilustrar isto com um exemplo pessoal.

Ontem gastei algum tempo a ouvir e a picar na net as intervenções da Isabel Moreira acerca da Iniciativa Legislativa de Cidadãos promovida por pessoas como eu, que vêem o aborto como um mal. Acabei a espreitar o Miguel Vale de Almeida também. Ora, este exercício feito sem cuidados é tóxico para a minha alma. Isto porque, e quero ser cuidadoso a afirmar isto, a Isabel Moreira e o Miguel Vale de Almeida não primam pela consistência na discussão de um assunto como o aborto. Digamos que há pessoas que metem o mundo a nascer em Maio de 1968 e que, por causa disso, tratam qualquer convicção ligada ao período que terminou antes como histórias de fantasmas. Ora, eu consigo perceber que as minhas convicções sejam pré-históricas aos olhos da Isabel Moreira e do Miguel Vale de Almeida. Mas o ponto não é esse. Eles não vencem uma discussão por acusarem os seus oponentes de serem retrógrados. Quando muito, poderão vencer os seus oponentes se provarem que eles estão errados. E, guess what?, depois de quase meio século depois de 68, há pessoas que ainda não estão convencidas dos méritos racionais do aborto. Em democracia, isto significa que a discussão não termina pelo facto de a legislação mudar. Em democracia isto significa que a discussão pode levar à mudança da legislação, desde que os cidadãos assim decidam. É para isto que cá estou. Deal with it.

Os cristãos não podem ter medo do mau uso da retórica (sim, porque a retórica é uma coisa boa - vão ler a “Hermenêutica Retórica” de Manuel Alexandre Júnior, professor catedrático da Universidade de Letras de Lisboa para se enturmarem com o assunto). Se os nomes que me chamam fossem determinantes para as posições que tomo, acho que a esta hora estaria a espalhar a hashtag #IsabelMoreiraÉsAMinhaPadroeira porque, de facto, ela é quem mete mais respeitinho no Parlamento quando fala (juro que tive medo que ela soubesse onde eu moro depois de ter visto a sua intervenção). Acontece que os cristãos não têm medo das palavras porque as palavras não são instrumentos de morte mas de vida: Deus criou o universo a partir da palavra. De cada vez que a Isabel Moreira me tenta meter medo com as suas palavras, eu oro uma prece que diz assim: “obrigado, Senhor, porque fizeste das palavras fábricas de pessoas e não trituradores delas.” E é precisamente porque Deus fez das palavras fábricas de pessoas que vou continuar a usar as minhas para defender a existência das pessoas ameaçadas pelo aborto. Já escrevi neste texto deal with it?

Mas comecei pelo lugar onde quero acabar. Só quando olharmos para algumas pessoas como nossos inimigos é que podemos, enquanto cristãos, orar por elas pedindo a Deus que nos faça ter-lhes amor. Ontem à noite pedi a Deus que não me faça odiar a Isabel Moreira e o Miguel Vale de Almeida. Pedi a Deus que me faça ter-lhes amor precisamente pelo facto de serem meus inimigos. Não é fácil mas é o que o meu Salvador Jesus me mandou fazer: amar os meus inimigos. Se eu achasse que eles são meus amigos, não só lhes faltava ao respeito (nem sequer nos conhecemos!) como colocava dentro de mim mesmo a origem dos meus bons sentimentos, procurando gostar deles independentemente de eles defenderem uma causa que para mim é maligna. Um cristão defende uma visão antropológica radical que coloca em Deus a origem dos seus bons sentimentos. Por isso é que um cristão não pode ter a pretensão de ser amigo de toda a gente - porque não deve gostar das pessoas independentemente do modo como elas se relacionam com Deus. Um cristão é chamado a uma coisa diferente que é amar os seus inimigos, não a achar que todo o bicho careta é seu compincha.

É a visão socialista abraçada pelo Miguel Vale de Almeida e pela Isabel Moreira que, descartando Deus, coloca o ser humano como a origem e finalidade dos seus próprios bons sentimentos. Por isso é que o socialismo acredita em causas humanitárias porque a humanidade, desde que bem encaminhada, é um progresso imparável em direcção à fraternidade universal. Eu compreendo o excesso retórico da Isabel Moreira porque ela não suporta a ideia de haver retrocessos nesta digressão (a ILC em causa é um regresso à barbárie). Os cristãos serão, como o Miguel Vale de Almeida tem repetido, os “fundamentalistas”, os “fascistas”, e todos os istas que nos possam atirar para esse longínquo e obscuro período terminado em em Abril de 1968. Ironicamente, a visão mais optimista da natureza humana é aquela que acaba a tratar pior todas as pessoas que não a têm (o Miguel Vale de Almeida disse que ia tomar nota de todas as mulheres do PSD e do CDS que votassem favoravelmente à ILC - como classificamos um gesto destes?).

Por que é que o cristianismo nos chama a amar os nossos inimigos? Porque relativiza o mal que eles nos podem fazer? Não. O mal que os nossos inimigos nos podem fazer é precisamente aquilo que os classifica como inimigos. O cristianismo chama-nos a amar os inimigos porque, realmente, ninguém começou a sua relação com Deus de outra maneira: ninguém nasceu amiguinho de Deus. É porque Deus nos adopta enquanto filhos num gesto de sacrifício (morrendo Cristo na cruz), quando nós éramos ainda seus inimigos, que nós não podemos olhar para a inimizade dos nossos inimigos como ponto final - quem sabe se Deus não vai fazer com eles o que fez connosco?

Finalizando. Miguel e Isabel: oro por vocês. Oro por mim quando oro por vocês. Oro pelo nosso país quando oro por mim orando por vocês. Parece que vamos ter de lutar uns contra os outros. Que assim seja. No meu coração sei que tem de haver amor. No vosso, é convosco. Não é fácil existir amor no meu coração. Mas ninguém disse que era suposto ser. Vocês também não se meteram na política para passar férias. Baza!


Seleção de imagem 'Spe Deus'

A pobreza no seu sentido mais lato

«Mas o coração das pessoas que nada possuem pode estar endurecido, envenenado, corrompido: cheio interiormente de cobiça pelo que não possui, esquecido de Deus e ávido apenas de bens materiais».

(Joseph Ratzinger / Bento XVI - “Jesus de Nazaré”)

Dar fruto, desembaraçado dos cuidados deste mundo

São (Padre) Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho 
Ep 3, 579; CE 54


Avança com simplicidade nas vias do Senhor e não te preocupes. Odeia os teus defeitos, sim, mas tranquilamente, sem agitação nem inquietação. Há que ter paciência e tirar proveito deles com santa humildade. Se não houver paciência, em lugar de desaparecerem, as tuas imperfeições apenas crescerão. Pois não há nada que aumente tanto os nossos defeitos como a inquietação e a obsessão de nos libertarmos deles.

Cultiva a tua vinha de comum acordo com Jesus. Cabe-te a ti a tarefa de retirar as pedras e arrancar os espinhos. A Jesus cabe a de semear, plantar, cultivar e regar. Mas mesmo no teu trabalho, é Ele que atua. Porque sem Cristo não conseguirias fazer nada.

O Evangelho do dia 24 de julho de 2015


«Ouvi, pois, vós, o que significa a parábola do semeador: A todo aquele que ouve a palavra do reino e não lhe presta atenção, vem o espírito maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. O que recebeu a semente no lugar pedregoso, é aquele que ouve a palavra, e logo a recebe com gosto; porém, não tem em si raiz, é inconstante; e, quando lhe sobrevém a tribulação e a perseguição por causa da palavra, logo sucumbe. O que recebeu a semente entre espinhos, é aquele que ouve a palavra; porém, os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra e fica infrutífera. O que recebeu a semente em boa terra, é aquele que ouve a palavra e a compreende; esse dá fruto, e umas vezes dá cem, outras sessenta, e outras trinta por um».

Mt 13, 18-23

quinta-feira, 23 de julho de 2015

APENAS PORQUE TE AMO

"Não é muito, mas é tudo o que tenho"
"É tudo quanto eu sempre quis"
Duas palavras apenas,
para Te dizer,
Senhor:
amo-Te,
com todo o meu ser!

Era para Te pedir,
para Te suplicar,
para interceder,
mas fico-me apenas
pelo amor.

Se Tu me amas,
(e sei que amas),
se eu Te tento amar,
no meu nada,
em tudo o que sou,
e tenho,
então,
nada me há-de faltar!

Por isso,
Senhor,
apenas e só:
amo-Te,
e dou-Te graças
pelo Teu amor.

Monte Real, 23 de Julho de 2015

Joaquim Mexia Alves

«Muitos profetas e justos desejaram ver o que estais a ver e não viram»

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja 
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, nº 2, 4ss


Mesmo antes da vinda do Salvador, os santos não ignoravam que Deus tinha desígnios de paz para o género humano. Pois «o Senhor Deus nada faz sem revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas» (Am 3,7) No entanto, esse desígnio continuava oculto a muitos […]; mas aqueles que pressentiam a redenção de Israel (Is 14,1) anunciavam que Cristo viria na carne e, com Ele, a paz […]: «Ele próprio será a paz» (Mq 5,4). […]

Contudo, enquanto eles prediziam a paz e o Autor da paz demorava a chegar, a fé do povo vacilava, pois não havia ninguém para o resgatar e salvar (Si 36,15). Queixavam-se desse atraso; tantas vezes prometido «pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos» (Lc 1,70), o Príncipe da paz (Is 9,5) parecia nunca mais vir. […] Era como se alguém de entre a multidão respondesse aos profetas: «Durante quanto mais tempo nos mantereis em suspenso? Há já tanto tempo que anunciais a paz e ela não chega. Prometeis maravilhas e só aparecem problemas. E essa promessa foi-nos de novo feita, “muitas vezes e de muitos modos” (Heb 1,1), os anjos anunciaram-na aos nossos pais e os nossos pais falaram-nos dela: “Paz, paz: mas não há paz” (Jr 6,14). […] Que Deus prove que os seus mensageiros são dignos de fé, se é que são seus mensageiros! Que venha Ele próprio!» […]

Daí vêm as suas promessas doces e cheias de consolo: «Eis que vem o Senhor» (Is 33,12), Ele não mentirá; se tardar, esperai ainda, porque com toda a certeza não falhará (cf Hab 2,3). Ou ainda: o seu tempo está próximo; os seus dias não tardarão. E enfim, na boca daquele que foi prometido vêm estas palavras : «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações como uma torrente transbordante» (Is 66,12).

O Evangelho do dia 23 de julho de 2015

Chegando-se a Ele os discípulos, disseram-Lhe: «Por que razão lhes falas por meio de parábolas?». Ele respondeu-lhes: «Porque a vós é concedido conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque ao que tem lhe será dado ainda mais, e terá em abundância, mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo em parábolas, porque vendo não vêem e ouvindo não ouvem nem entendem. E cumpre-se neles a profecia de Isaías, que diz: “Ouvireis com os ouvidos e não entendereis; olhareis com os vossos olhos e não vereis. Porque o coração deste povo tornou-se insensível, os seus ouvidos tornaram-se duros, e fecharam os olhos, para não suceder que vejam com os olhos, e oiçam com os ouvidos, e entendam com o coração, e se convertam, e Eu os cure”. Ditosos, porém, os vossos olhos, porque vêem e os vossos ouvidos, porque ouvem. Em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram.

Mt 13, 10-17

quarta-feira, 22 de julho de 2015

«Quem procuras?»

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja 
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, n º 28, 9


Só o sentido da audição pode alcançar a verdade, porque só ele ouve a palavra. […] «Não Me toques», diz o Senhor, isto é, perde o hábito de confiar nos teus sentidos enganosos, apoia-te nas minhas palavras, acostuma-te à fé. A fé não se pode enganar, compreende as coisas invisíveis e não sofre da pobreza dos sentidos. A fé ultrapassa os limites da razão humana, os usos da natureza, os limites da experiência. Porque queres aprender com os olhos o que eles não podem saber? E porque se esforça a tua mão por sondar o que nunca atingirá? É tão pouco o que uns e outra dão a conhecer de Mim! É a fé que compete pronunciar-se a meu respeito sem diminuir a minha majestade; aprende a acreditar com mais certeza e a seguir com mais confiança o que ela te diz.

«Não Me toques, pois ainda não subi para o Pai.» Como se devesse ou pudesse deixar-Se tocar quando fosse elevado; sim, sem dúvida que poderá ser tocado, mas só pelo coração e não pelas mãos, pelo desejo e não com os olhos, pela fé e não pelos sentidos. «Porque procuras tocar-Me agora [...]? Não te lembras de que, quando Eu ainda era mortal, os olhos dos meus discípulos não puderam aguentar a glória do meu corpo transfigurado, que ainda tinha de morrer? Faço-te ainda o favor de te mostrar a minha condição de servo (Fil 2,7), mas doravante a minha glória afasta-Me de ti. […] Suspende pois o teu julgamento […], reserva à fé o esclarecimento de tão grande mistério. […] Para seres digna de Me tocar, tens de Me contemplar sentado à direita de meu Pai (Mc 16,19; Sl 109,1), não mais na minha condição de abaixamento, mas no meu estado glorificado. Trata-se do mesmo corpo, mas sob outro aspecto. Porque queres tocar-Me na minha fealdade? Espera pelo momento em que poderás fazê-lo na minha beleza.»

O Evangelho do dia 22 de julho de 2015

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então, e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo a quem Jesus amava, e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Entretanto, Maria estava da parte de fora do sepulcro a chorar. Enquanto chorava, inclinou-se para o sepulcro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde fora posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Eles disseram-lhe: «Mulher, porque choras?». Respondeu-lhes: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram». Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Jesus. Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? A quem procuras?». Ela, julgando que era o hortelão, disse-Lhe: «Senhor, se tu O levaste, diz-me onde O puseste; eu irei buscá-l'O». Jesus disse-lhe: «Maria!». Ela, voltando-se, disse-Lhe em hebreu: «Rabboni!», Jesus disse-lhe: «Não Me retenhas, porque ainda não subi para Meu Pai; mas vai a Meus irmãos e diz-lhes que subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus». Foi Maria Madalena anunciar aos discípulos: «Vi o Senhor!», e as coisas que Ele lhe disse.

Jo 20, 1-2.11-18

terça-feira, 21 de julho de 2015

«Todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai [...], esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe»

Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Carta 142

«Os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos diz o Senhor» (cf. Is 55,8). O mérito não consiste em fazer nem em dar muito, mas antes em receber e amar muito. Está dito que a felicidade está mais em dar do que em receber (Act 20,35), e é verdade, mas quando Jesus quer tomar para Si a doçura de dar, não é delicado recusar. Deixemo-Lo tomar e dar tudo o que quiser; a perfeição consiste em fazer a Sua vontade, e a alma que se entrega totalmente a Ele é chamada pelo próprio Jesus «Sua mãe, Sua irmã» e toda a Sua família. Aliás, «se alguém Me tem amor, há-de guardar a Minha palavra; e o Meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada.» (Jo 14,23). Oh, como é fácil agradar a Jesus, deleitar o Seu coração; basta amá-Lo sem olharmos demasiado para nós próprios, sem examinar excessivamente os próprios defeitos [...].

Os diretores espirituais fazem-nos aproximar da perfeição levando-nos a praticar um grande número de atos de virtude e têm razão, mas o meu diretor, que é Jesus, não me ensina a contar os meus atos; ensina-me a fazer tudo por amor, a não Lhe recusar nada, a estar contente quando me dá ocasião de Lhe mostrar que O amo, mas isso acontece na paz, no abandono; é Jesus que faz tudo e eu nada faço.

Jesus dá aos Seus discípulos o poder de curar os corpos, esperando confiar-lhes o poder, muito mais importante, de curar as almas. Observa como Ele mostra, simultaneamente, a facilidade e a necessidade desta obra. Efetivamente, que diz Ele? «A messe é abundante, mas os trabalhadores são poucos.» Não é para a sementeira que vos envio, mas para a colheita. [...] Falando assim, Nosso Senhor incutia-lhes confiança e mostrava-lhes que o trabalho mais importante já tinha sido realizado.

O Evangelho do dia 21 de julho de 2015

Estando Ele ainda a falar ao povo, eis que Sua mãe e Seus irmãos se achavam fora, desejando falar-Lhe. Alguém disse-Lhe: «Tua mãe e Teus irmãos estão ali fora e desejam falar-Te». Ele, porém, respondeu ao que falava: «Quem é a Minha mãe e quem são os Meus irmãos?» E, estendendo a mão para os Seus discípulos, disse: «Eis Minha mãe e Meus irmãos. Porque todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai que está nos céus, esse é Meu irmão e Minha irmã e Minha mãe».

Mt 12, 46-50

segunda-feira, 20 de julho de 2015

O sinal de Jonas

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), Bispo de Ravena, Doutor da Igreja
Sermão 3, PL 52, 303-306, CCL 24, 211-215

Eis que a fuga do profeta Jonas para longe de Deus (Jn 1, 3) se transforma numa imagem profética, e o que é apresentado como um naufrágio funesto se torna o sinal da ressurreição do Senhor. O próprio texto da história de Jonas mostra-nos bem como este prefigura plenamente a imagem do Salvador. Está escrito que Jonas «fugiu da presença do Senhor». Não fugiu o próprio Senhor da condição e do aspecto da divindade, para tomar a condição e o rosto humanos? Assim o diz o Apóstolo Paulo: «Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-se a Si mesmo, tomando a condição de servo» (Fil 2, 6-7). O Senhor revestiu-Se da condição de servo. Para passar despercebido no mundo, para sair vitorioso sobre o demónio, fugiu de Si mesmo para junto dos homens. [...] Deus está em todo o lado: é impossível fugir-Lhe. Para conseguir «fugir da presença do Senhor», não para um lugar determinado mas, de certa maneira, através da aparência, Cristo refugiou-Se na imagem da nossa servidão, totalmente assumida.

A narrativa prossegue: «desceu a Jafa, onde encontrou um navio que partia para Társis». Eis agora Aquele que desceu: «Ninguém subiu ao Céu a não ser Aquele que desceu do Céu» (Jo 3, 13). O Senhor desceu do céu à terra, Deus desceu à altura do homem, a omnipotência desceu à nossa servidão. Mas Jonas, que desceu em direcção ao navio, teve de subir para nele viajar. Da mesma forma, Cristo, descido ao mundo, subiu, pelas Suas virtudes e milagres, para o navio da Sua Igreja.

O Evangelho do dia 20 de julho de 2015

Então replicaram-Lhe alguns dos escribas e fariseus, dizendo: «Mestre, nós desejávamos ver algum prodígio Teu». Ele respondeu-lhes: «Esta geração má e adúltera pede um prodígio, mas não lhe será dado outro prodígio senão o prodígio do profeta Jonas. Porque, assim como Jonas esteve no ventre da baleia três dias e três noites, assim estará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra. Os habitantes de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração, e a condenarão, porque se converteram com a pregação de Jonas. Ora aqui está Quem é mais do que Jonas. A rainha do Meio-Dia levantar-se-á no dia do juízo contra esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. Ora aqui está Quem é mais do que Salomão.

Mt 12, 38-42

domingo, 19 de julho de 2015

Ecologia: da «fumata bianca» ao fumo preto

A mais recente Encíclica do Papa Francisco começa com uma frase de S. Francisco de Assis, num antigo dialecto italiano, hoje desaparecido: «Laudato si’ mi’ Signore, per sora nostra matre Terra» (louvado sejas meu Senhor, pela nossa irmã a mãe Terra). Esta oração, muito conhecida, é o mote poético que condensa a mensagem da Encíclica.

O documento tem um estilo muito próprio e, talvez por isso mesmo, para não dar a impressão de que há uma doutrina nova neste pontificado, contém muito mais citações que o habitual. As frases mais rotundas aparecem geralmente sob a forma de citações da Escritura, de autoridades antigas, do Concílio Vaticano II, de João XXIII, de Paulo VI, de João Paulo II, de Bento XVI, do Catecismo da Igreja Católica ou de outros documentos da Santa Sé e ainda de declarações de numerosas Conferências Episcopais de todo o mundo, incluindo a Conferência Episcopal Portuguesa. Paulo VI é citado directamente 5 vezes, João Paulo II 39 vezes e Bento XVI 27 vezes (ou uma dúzia mais de vezes, se incluirmos escritos de Bento XVI que foram publicados já pelo seu sucessor). Há ainda outras 103 referências bibliográficas, sem contar com as frases da Bíblia, que são muito numerosas.

Esta opção de se fundamentar exaustivamente no Magistério anterior significa que o Papa não quis inventar uma doutrina nova, mas expor a doutrina de sempre. Este ponto é bastante importante e, com tantas citações, percebe-se que o Papa Francisco quis que ficasse claro.

Embora os principais ensinamentos da Encíclica já sejam conhecidos, o Papa organizou o material de forma bastante original, muito interessante mesmo para os leitores não católicos.

A mensagem central, apresentada sob vários pontos de vista, é que a natureza é um presente de Deus à humanidade, um livro repassado da bondade e beleza de Deus. Aliás, nós próprios somos fruto do seu amor. Por isso, temos de cuidar da natureza (e de nós próprios) com o empenho e a criatividade de quem cuida de um tesouro que nos foi confiado por quem depositou em nós uma expectativa tão grande.

O Papa nota que a falta de estima pelo mundo material está associada à desconsideração por Deus e pelos outros. Na minha opinião, Portugal continental está cheio de exemplos de menosprezo do património natural e humano e até nos Açores há algum caso. Lembro-me de arranha-céus implantados no meio de cidades que tinham muita personalidade, ou no meio de belas paisagens: do cimo desses edifícios, o panorama é realmente bom, mas aqueles caixotes vêem-se de todo o lado...

Outras vezes, as pessoas fazem um piquenique e deixam o lixo para trás, esquecendo quem vem a seguir. A Encíclica fala bastante do lixo, do «descarte», porque inutilizar é também degradar, tirar valor às coisas. Podemos utilizar os recursos da natureza, para a alimentação e para tudo o que precisamos, mas não podemos pensar só na produção, temos de prever a reinserção ambiental do que sobra. Se não, aos poucos, estamos a «deitar fora» o mundo, a transformá-lo em lixo, sem pensar no que deixamos às próximas gerações.

Com uma expressão que remonta ao Papa João Paulo II, esta Encíclica trata também da «ecologia humana», do respeito por todas as pessoas. O Papa Francisco insiste que ninguém está a mais, independentemente do que pode produzir. Todos pertencem igualmente à família humana e todos somos responsáveis por todos. No que toca às pessoas, o Papa rejeita completamente o «descarte»: nem aborto, nem eutanásia, nem exclusão dos pobres.

Em tantas referências bibliográficas, não há uma única de carácter científico. É que (como era de esperar) o Papa não se pronuncia acerca de aspectos técnicos, conforme ele próprio repete três vezes ao longo da Encíclica. Aqui ou ali, mencionam-se algumas consequências do «descarte», a título de exemplo, mas parece-me errado ler este texto como se fosse um relatório de impactos ambientais, ou um manual de climatologia. O tema é a doutrina da Igreja acerca do correcto uso dos bens materiais e da atenção aos mais desfavorecidos; é só nesse sentido que a Encíclica aborda a ecologia, em particular aquilo que o Papa chama a «ecologia humana».

Em resumo. Leitura obrigatória para quem quiser ter uma opinião mais fundamentada sobre a responsabilidade cívica, individual e comunitária, e sobre a relação da sociedade e da economia com Deus.
José Maria C.S. André
«Correio dos Açores»,  «Verdadeiro Olhar»,  «ABC Portuguese Canadian Newspaper»,  «Spe Deus»
19-VII-2015