Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 22 de maio de 2015

12 perguntas sobre o Opus Dei, 12 respostas de S. Josemaria

Perguntas e respostas

1. Como e porquê fundou o Opus Dei?

Porquê? As obras que nascem da vontade de Deus não têm outra razão senão o desejo divino de as utilizar como expressão da Sua vontade salvífica universal. Desde o primeiro momento a Obra era universal, católica. Não nascia para dar solução aos problemas concretos da Europa dos anos vinte, mas para dizer aos homens e mulheres de todos os países, de qualquer condição, raça, língua ou ambiente — e de qualquer estado: solteiros, casados, viúvos, sacerdotes — que podiam amar e servir a Deus, sem deixar de viver no seu trabalho corrente, com a sua família, nas suas variadas e normais relações sociais.

Como se fundou? Sem meio humano algum. Apenas tinha vinte e seis anos, graça de Deus e bom humor. A Obra nasceu pequena: não era mais do que o desejo de um jovem sacerdote, que se esforçava por fazer o que Deus lhe pedia.

Temas Atuais do Cristianismo, 32

2. Qual é a missão central e os objetivos que tem o Opus Dei?

O Opus Dei propõe-se promover, entre pessoas de todas as classes da sociedade, o desejo da plenitude de vida cristã no meio do mundo. Isto é, o Opus Dei pretende ajudar as pessoas que vivem no mundo - o homem vulgar, o homem da rua - a levar uma vida plenamente cristã, sem modificar o seu modo normal de vida, o seu trabalho habitual, nem os seus ideais e preocupações.

Por isto se pode dizer, como escrevi há muitos anos, que o Opus Dei é velho como o Evangelho e, como o Evangelho, novo. Trata-se de recordar aos cristãos as palavras maravilhosas que se lêem no Génesis: que Deus criou o homem para trabalhar. Pusemos os olhos no exemplo de Cristo, que passou quase toda a sua vida terrena trabalhando como artesão numa terra pequena. O trabalho não é apenas um dos mais altos valores humanos e um meio pelo qual os homens hão-de contribuir para o progresso da sociedade; é também um caminho de santificação.

Se alguma comparação se quer fazer, a maneira mais fácil de entender o Opus Dei é pensar na vida dos primeiros cristãos. Eles viviam profundamente a sua vocação cristã; procuravam muito a sério a perfeição a que eram chamados, pelo facto, ao mesmo tempo simples e sublime, do Batismo. Não se distinguem exteriormente dos outros cidadãos. Os membros do Opus Dei são como toda a gente: realizam um trabalho corrente; vivem no meio do mundo conforme aquilo que são - cidadãos cristãos que querem responder inteiramente às exigências da sua fé.

Temas Atuais do Cristianismo, 24

3. Por vezes, ao falar da realidade do Opus Dei, afirmou que é uma "desorganização organizada". Poderia explicar aos nossos leitores o significado desta expressão?

Quero dizer que damos uma importância primária e fundamental à espontaneidade apostólica da pessoa, à sua iniciativa livre e responsável guiada pela ação do Espírito; e não a estruturas orgânicas, mandatos, tácticas e planos impostos de cima, como atos de governo.

Existe um mínimo de organização, evidentemente, com um governo central, que atua sempre colegialmente e tem a sua sede em Roma, e governos regionais, também colegiais, cada um presidido por um Conselheiro [*]. Mas toda a atividade desses organismos se dirige fundamentalmente a um fim: proporcionar aos sócios a assistência espiritual necessária para a sua vida de piedade, e uma adequada formação espiritual, doutrinal-religiosa e humana. Depois: patos à água! Quer dizer: cristãos a santificarem todos os caminhos dos homens, que todos guardam o aroma da passagem de Deus.

Temas Atuais do Cristianismo, 19

4. Como se desenvolveu e evoluiu o Opus Dei desde a sua fundação?

Desde o primeiro momento, o único objectivo do Opus Dei foi o que acabo de lhe indicar: contribuir para que, no meio do mundo, haja homens e mulheres de todas as raças e condições sociais que procurem amar e servir a Deus e aos outros homens no seu trabalho habitual e através dele. No início da Obra, em 1928, o que eu defendi foi que a santidade não é coisa para privilegiados, pois podem ser divinos todos os caminhos da Terra, todos os estados de vida, todas as profissões, todas as tarefas honestas. As implicações dessa mensagem são muitas e a experiência da vida da Obra tem-me ajudado a conhecê-las cada vez mais profundamente e com mais riqueza de cambiantes. A Obra nasceu pequena e foi crescendo normalmente, de maneira gradual e progressiva, como cresce um organismo vivo e como tudo o que se desenvolve na História.

Mas o objectivo e razão de ser da Obra não mudou, nem mudará, por muito que possa mudar a sociedade, porque a mensagem do Opus Dei consiste em proclamar que qualquer trabalho honesto pode ser santificado, sejam quais forem as circunstâncias em que se processa.

Hoje, fazem parte da Obra pessoas de todas as profissões: não só médicos, advogados, engenheiros e artistas, mas também pedreiros, mineiros, camponeses; qualquer profissão - desde realizadores de cinema e pilotos de aviões de reação, até cabeleireiros de alta moda.

'Se há alguma comparação, a maneira mais fácil de entender o Opus Dei é pensar na vida dos primeiros cristãos'.
'Se há alguma comparação, a maneira mais fácil de entender o Opus Dei é pensar na vida dos primeiros cristãos'.
Para os membros do Opus Dei, estar atualizado, compreender o mundo moderno, é uma coisa natural e instintiva, porque são eles - juntamente com os outros cidadãos, e tal como eles - quem faz nascer esse mundo e lhe dá a sua modernidade.

Se é este o espírito da nossa Obra, já vê como terá sido grande alegria para nós ouvir o Concílio declarar solenemente que a Igreja não repele o mundo em que vive, nem o seu progresso e desenvolvimento, antes o compreende e o ama. De resto, uma das características essenciais da espiritualidade que os membros da Obra se esforçam, desde há quase 40 anos, por viver, é justamente a consciência de que são, ao mesmo tempo, parte integrante da Igreja e do Estado, assumindo, portanto, cada um, plenamente e com toda a liberdade, a sua responsabilidade individual como cristão e como cidadão.

Temas Atuais do Cristianismo, 26

5. Como vê o futuro do Opus Dei?

'Quero dizer que damos uma importância primária e fundamental à espontaneidade apostólica da pessoa, à sua livre e responsável iniciativa, guiada pela ação do Espírito'.
'Quero dizer que damos uma importância primária e fundamental à espontaneidade apostólica da pessoa, à sua livre e responsável iniciativa, guiada pela ação do Espírito'.
O Opus Dei é ainda muito novo. Trinta e nove anos para uma instituição é apenas o começo. A nossa tarefa é colaborar com todos os outros cristãos na grande missão de ser testemunha do Evangelho de Cristo; é recordar que essa boa nova pode vivificar qualquer situação humana. A tarefa que nos espera é ingente. É um mar sem limites, porque, enquanto houver homens na Terra, por muito que se alterem as formas técnicas da produção, terão um trabalho que podem oferecer a Deus, que podem santificar. Com a graça de Deus, a Obra quer ensinar-lhes a fazer desse trabalho um serviço a todos os homens de qualquer condição, raça ou religião. E servindo assim os homens, servirão a Deus.

Temas Atuais do Cristianismo, 57

6. O Opus Dei tem alguma orientação económica ou política?

Cada um dos seus membros tem plena liberdade para pensar e atuar nessas matérias como melhor lhe parecer. Em tudo aquilo que é temporal, os sócios da Obra são libérrimos: cabem no Opus Dei pessoas de todas as tendências políticas, culturais, sociais e económicas que a consciência cristã possa admitir.

Eu nunca falo de política. A minha missão como sacerdote é exclusivamente espiritual. Além disso, mesmo que alguma vez exprimisse uma opinião em assuntos temporais, os sócios da Obra não teriam nenhuma obrigação de a seguir.

Temas Atuais do Cristianismo, 48

7. Pode pensar-se que o Opus Dei tem relação com as atividades ou cargos que alguns dos seus membros têm em empresas ou grupos de certa importância?

De modo nenhum. O Opus Dei não intervém para nada em política; é absolutamente alheio a qualquer tendência, grupo ou regime político, económico, cultural ou ideológico. Os seus fins — repito — são exclusivamente espirituais e apostólicos. Exige dos seus fiéis apenas que vivam ao modo cristão, que se esforcem por ajustar as suas vidas ao ideal do Evangelho. Não se imiscui, pois, de nenhum modo nas questões temporais. Se alguém não entende isto talvez se deva a que não entende a liberdade pessoal ou a que não consegue distinguir entre os fins exclusivamente espirituais para os quais se associam os membros da Obra e o amplíssimo campo das atividades humanas — a economia, a política, a cultura, a arte, a filosofia, etc.— nas quais as pessoas do Opus Dei gozam de plena liberdade e trabalham sob a sua própria responsabilidade. A partir do primeiro momento em que se aproximam da Obra, todos conhecem bem a realidade da sua liberdade individual, de modo que se nalgum caso algum deles tentasse pressionar os outros impondo as suas próprias opiniões em matéria política, ou servir-se deles para interesses humanos, os outros se rebelar-se-iam e expulsá-lo-iam imediatamente. O respeito pela liberdade dos seus membros é condição essencial da própria vida do Opus Dei. Sem ele, não ninguém viria à Obra. Mais. Se se desse alguma vez — não aconteceu, não acontece e, com a ajuda de Deus, não acontecerá jamais— uma intromissão do Opus Dei na política, ou nalgum outro campo das atividades humanas, o primeiro inimigo da Obra seria eu.

8. Como responde aos que falam de segredos no Opus Dei? Algumas pessoas têm afirmado que o Opus Dei é organizado segundo as normas das sociedades secretas.

Desde 1928 não tenho deixado de pregar que a santidade não está reservada a privilegiados, que todos os caminhos da Terra podem ser divinos, porque o cerne da espiritualidade específica do Opus Dei é a santificação do trabalho. É preciso acabar com o preconceito de que os fiéis correntes não podem senão limitar-se a ajudar o clero, em apostolados eclesiásticos; e fazer notar que, para alcançar esse fim sobrenatural, os homens têm necessidade de ser e de se sentir pessoalmente livres, com a liberdade que Jesus Cristo ganhou para nós. Para pregar e ensinar a praticar esta doutrina, nunca tive necessidade de segredo algum. Os membros da Obra detestam o segredo, porque são fiéis correntes, pessoas exatamente iguais às outras: ao entrarem para o Opus Dei não mudam de estado. Repugnar-lhes-ia trazer um letreiro nas costas que dissesse: “Reparem que estou dedicado ao serviço de Deus”. Isto não seria nem laical nem secular. Mas os conhecidos e amigos dos sócios do Opus Dei sabem que eles fazem parte da Obra, porque o não dissimulam, ainda que o não apregoem.

'O Opus Dei pretende ajudar as pessoas que vivem no mundo — o homem corrente, o homem da rua — a levar uma vida plenamente cristã, sem modificar o seu modo normal de vida, nem o seu trabalho corrente, nem as seus sonhos e desejos'.
'O Opus Dei pretende ajudar as pessoas que vivem no mundo — o homem corrente, o homem da rua — a levar uma vida plenamente cristã, sem modificar o seu modo normal de vida, nem o seu trabalho corrente, nem as seus sonhos e desejos'.

Temas Atuais do Cristianismo, 34

Informar-se sobre o Opus Dei é bem simples. Em todos os países a Obra trabalha à luz do dia, juridicamente reconhecida pelas autoridades civis e eclesiásticas. São perfeitamente conhecidos os nomes dos seus diretores e das suas obras apostólicas. Quem quer que deseje informações sobre a nossa Obra pode obtê-las sem dificuldade, pondo-se em contacto com os seus diretores ou visitando alguma das nossas obras próprias. O meu amigo, se quiser, pode ser testemunha de que nunca nenhum dos dirigentes do Opus Dei, ou os que recebem os jornalistas, deixaram de lhes facilitar a tarefa informativa, respondendo às suas perguntas ou dando a documentação adequada.

Nem eu nem nenhum dos membros do Opus Dei pretendemos que toda a gente nos compreenda ou compartilhe connosco os mesmos ideais espirituais. Sou muito amigo da liberdade e gosto muito de que cada um siga o seu próprio caminho. Mas é evidente que temos o direito elementar de ser respeitados.

Temas Atuais do Cristianismo, 30

9. Porque critérios mede o êxito ou não êxito do Opus Dei?

Quando um empreendimento é sobrenatural, pouco importam o êxito ou o fracasso como vulgarmente se consideram. Já dizia S. Paulo aos cristãos de Corinto que, na vida espiritual, o que interessa não é o juízo dos outros, nem o nosso próprio juízo, mas o juízo de Deus.

É certo que a Obra está hoje estendida a todo o mundo: pertencem a ela homens e mulheres de cerca de 70 nacionalidades. Ao pensar neste facto, eu mesmo me surpreendo. Não lhe encontro explicação humana, mas sim a vontade de Deus, pois o Espírito sopra onde quer, e serve-Se de quem quer para realizar a santificação dos homens. Tudo isso é para mim ocasião de ação de graças, de humildade e de súplica a Deus para saber sempre servi-Lo.

Pergunta-me também qual o critério com que meço e ajuízo as coisas. A resposta é muito simples: santidade, frutos de santidade.

São muitos, efetivamente – e não faltam entre eles pastores e mesmo Bispos das suas respetivas confissões – os irmãos separados que se sentem atraídos pelo espírito do Opus Dei e colaboram nos nossos apostolados'.
São muitos, efetivamente – e não faltam entre eles pastores e mesmo Bispos das suas respetivas confissões – os irmãos separados que se sentem atraídos pelo espírito do Opus Dei e colaboram nos nossos apostolados'.
O apostolado mais importante do Opus Dei é aquele que cada um dos seus sócios realiza através do testemunho da sua vida e com a sua palavra, no convívio diário com os amigos e companheiros de profissão. Quem poderá medir a eficácia sobrenatural deste apostolado silencioso e humilde? É incalculável a ajuda que representa o exemplo de um amigo leal e sincero, ou a influência de uma boa mãe no seio da família.

Mas talvez a sua pergunta se refira aos apostolados da Obra como tal, supondo que, neste caso, se poderão medir os resultados sob um ponto de vista humano, técnico: se uma escola de formação de operários consegue promover socialmente os homens que a frequentam; se uma Universidade dá aos seus estudantes uma formação profissional e cultural adequadas. Se admitirmos que é esse o sentido da sua pergunta, dir-lhe-ei que o resultado se pode explicar em parte por se tratar de tarefas realizadas por pessoas que exercem esse trabalho como uma atividade profissional específica, para a qual se preparam como todo aquele que deseja executar um trabalho sério. Quer isto dizer, entre outras coisas, que essas obras não se lançam segundo esquemas preconcebidos: caso por caso, estudam-se as necessidades particulares da sociedade em que se vão inserir, para se adaptarem às exigências reais.

'A minha pregação foi que a santidade não é coisa para privilegiados, mas que podem ser divinos todos os caminhos da terra, todos os estados, todas as profissões, todas os trabalhos honestos'.
'A minha pregação foi que a santidade não é coisa para privilegiados, mas que podem ser divinos todos os caminhos da terra, todos os estados, todas as profissões, todas os trabalhos honestos'.
Repito-lhe que ao Opus Dei não interessa primordialmente a eficácia humana. O êxito ou o fracasso real desses trabalhos depende de que, estando humanamente bem feitos, sirvam ou não sirvam para que aqueles que os realizam, e também os que deles beneficiam, amem a Deus, se sintam irmãos de todos os outros homens e manifestem estes sentimentos num serviço desinteressado à humanidade.

Temas Atuais do Cristianismo, 31

10. O ambiente de Espanha nos anos 40-70 contribuiu para o crescimento do Opus Dei?

Em poucos lugares encontramos menos facilidades do que em Espanha. É o país - custa-me dizê-lo, pois amo profundamente a minha pátria - em que deu mais trabalho e sofrimento fazer enraizar a Obra. Mal tinha nascido, logo encontrou a oposição dos inimigos da liberdade individual, e de pessoas tão aferradas às ideias tradicionais que não podiam compreender a vida dos sócios do Opus Dei: cidadãos vulgares, que se esforçam por viver plenamente a sua vocação cristã sem deixar o mundo.

'Em tudo aquilo que é temporal, os sócios da Obra são libérrimos: cabem no Opus Dei pessoas de todas as tendências políticas, culturais, sociais e económicas que a consciência cristã possa admitir'.
'Em tudo aquilo que é temporal, os sócios da Obra são libérrimos: cabem no Opus Dei pessoas de todas as tendências políticas, culturais, sociais e económicas que a consciência cristã possa admitir'.
Também as obras de apostolado da própria Obra não encontraram especiais facilidades em Espanha. Governos de países onde a maioria dos cidadãos não é católica ajudaram, com muito maior generosidade do que o Estado espanhol, as atividades docentes e beneficentes promovidas por membros da Obra. O auxílio que esses governos concedem ou possam conceder às obras próprias do Opus Dei, como é habitual com outras obras semelhantes, não significa privilégio, mas simplesmente o reconhecimento da função social que desempenham, poupando dinheiro ao Tesouro público.

Na sua expansão internacional, o espírito do Opus Dei encontrou imediato eco e profundo acolhimento em todos os países. Se encontrou obstáculos, foi exatamente por causa de falsidades vindas de Espanha e inventadas por espanhóis, por alguns sectores bem concretos da sociedade espanhola. Em primeiro lugar, a organização internacional de que há pouco lhe falei; mas isso parece certo que é coisa do passado, e eu não guardo rancor a ninguém. Depois, algumas pessoas que não compreendem o pluralismo, que adotam atitudes de grupo, quando não caem em mentalidade estreita ou totalitária e que se servem do nome católico para fazer política. Alguns desses, não percebo porquê - talvez por falsos motivos humanos -, parecem achar um gosto especial em atacar o Opus Dei, e, como dispõem de grandes meios económicos, - o dinheiro dos contribuintes espanhóis -, os seus ataques podem ser publicados por certa imprensa.

Vejo bem que o meu amigo está à espera de me ouvir citar nomes concretos de pessoas e instituições... Não lhos vou dar, e espero que compreenda a razão. Nem a minha missão nem a da Obra são políticas: o meu ofício é rezar. E não quero dizer nada que possa interpretar-se sequer como uma intervenção em Política. Mais ainda, é-me doloroso falar destas coisas. Estive calado durante quase 40 anos, e, se agora digo alguma coisa, é porque tenho obrigação de denunciar como absolutamente falsas as interpretações torcidas que algumas pessoas pretendem dar de uma atividade que é exclusivamente espiritual. Por isso, se bem que até agora me tenha calado, daqui em diante falarei, e, se for necessário, cada vez com maior clareza.

Mas, voltando ao tema central da sua pergunta: se, também em Espanha, muitas pessoas de todas as classes sociais têm procurado seguir Cristo com a ajuda do Opus Dei e de acordo com o seu espírito, a explicação para isso não se pode ir buscar ao ambiente ou a outros motivos extrínsecos. A prova do que afirmo está em que aqueles que tão levianamente o pretendem vêem diminuir os seus próprios grupos; e as causas exteriores são as mesmas para todos. Humanamente falando, talvez seja também porque esses formam grupo, e nós não tiramos a liberdade pessoal a ninguém.

Se o Opus Dei está bem desenvolvido em Espanha - como também em algumas outras nações - pode ser condição disso o facto de a nossa tarefa espiritual aí se haver iniciado há 40 anos, e, como lhe expliquei antes, a guerra civil espanhola e, em seguida, a guerra mundial tornarem necessário o adiamento do início da Obra noutros países. Quero declarar, no entanto, que desde há alguns anos, os espanhóis são uma minoria no Opus Dei.

Não pense, repito, que não amo a minha pátria, ou que não me alegro profundamente com o trabalho que a Obra nela realiza; mas é triste que haja quem propague equívocos acerca do Opus Dei e acerca de Espanha.

'Com a graça de Deus, a Obra quer ensinar-lhes a fazer desse trabalho um serviço a todos os homens de qualquer condição, raça, religião. Ao servir, assim, os homens, servirão a Deus'.
'Com a graça de Deus, a Obra quer ensinar-lhes a fazer desse trabalho um serviço a todos os homens de qualquer condição, raça, religião. Ao servir, assim, os homens, servirão a Deus'.

Temas Atuais do Cristianismo, 33

11. Por que razão, se no Opus Dei cada individuo tem a mesma liberdade que qualquer cristão para ter e manifestar as suas opiniões pessoais, alguns pensam que o Opus Dei é uma organização monolítica em assuntos temporais?

Não me parece que esta opinião esteja realmente muito difundida. Bastantes dos órgãos mais qualificados da imprensa internacional reconheceram já o pluralismo dos sócios da Obra.

Houve de facto algumas pessoas que defenderam a opinião errónea a que se refere. É possível que alguns, por diversos motivos, tenham difundido tal ideia, mesmo sabendo que não corresponde à realidade. Penso que, em muitos outros casos, isso se pode atribuir à falta de conhecimento, ocasionado talvez por deficiência de informação: não estando bem informadas, não é de estranhar que as pessoas que não têm suficiente interesse por entrarem em contacto pessoal com o Opus Dei e por se informarem bem, atribuam à Obra, como tal, as opiniões de alguns membros.

'O respeito pela liberdade dos seus membros é condição essencial da própria vida do Opus Dei'.
'O respeito pela liberdade dos seus membros é condição essencial da própria vida do Opus Dei'.
O que é certo é que ninguém medianamente informado sobre os assuntos espanhóis pode desconhecer a realidade do pluralismo existente entre os sócios da Obra. Você mesmo poderia citar com certeza muitos exemplos.

Outro factor pode ser o preconceito subconsciente de pessoas que têm mentalidade de partido único, no campo político ou no espiritual. Para quem tem esta mentalidade e pretende que todos opinem do mesmo modo que ele, é difícil acreditar que haja quem seja capaz de respeitar a liberdade dos outros. Atribuem assim à Obra o carácter monolítico que têm os seus próprios grupos.

Temas Atuais do Cristianismo, 50

12. Como se insere o Opus Dei no Ecumenismo? Como se insere o Opus Dei no Ecumenismo? - perguntava-me também. Já contei, no ano passado, a um jornalista francês - e sei que encontrou eco, inclusivamente, em publicações de irmãos separados - o que uma vez disse ao Santo Padre João XXIII, movido pelo encanto afável e paterno do seu trato: “Santo Padre, na nossa Obra, todos os homens, católicos ou não, encontraram sempre um ambiente acolhedor: não aprendi o ecumenismo de Vossa Santidade”. Ele riu-se emocionado, porque sabia que, já desde 1950, a Santa Sé tinha autorizado o Opus Dei a receber como associados Cooperadores os não católicos e até os não cristãos.

São muitos, efetivamente - e entre eles contam-se pastores e até bispos das suas respectivas confissões -, os irmãos separados que se sentem atraídos pelo espírito do Opus Dei e colaboram nos nossos apostolados. E são cada vez mais frequentes - à medida que os contatos se intensificam - as manifestações de simpatia e de cordial entendimento, resultantes de os sócios do Opus Dei centrarem a sua espiritualidade no simples propósito de viver com sentido de responsabilidade os compromissos e exigências baptismais do cristão.

O desejo de procurar a plenitude da vida cristã e de fazer apostolado, procurando a santificação do trabalho profissional; a vida imersa nas realidades seculares, respeitando a sua própria autonomia, mas tratando-as com espírito e amor de almas contemplativas; a primazia que na organização dos nossos trabalhos concedemos à pessoa, à ação do Espírito nas almas, ao respeito da dignidade e da liberdade que provêm da filiação divina do cristão; a defesa contra a concepção monolítica e institucionalista do apostolado dos leigos, da legítima capacidade de iniciativa, adentro do necessário respeito pelo bem comum: estes e outros aspectos mais, do nosso modo de ser e trabalhar, são pontos de fácil encontro, onde os irmãos separados descobrem - feita vida, experimentada pelos anos - uma boa parte dos princípios doutrinários em que eles e nós, os católicos, pomos fundamentadas esperanças ecuménicas.

Temas Atuais do Cristianismo, 22

'Compreenderá que foi uma grande alegria para nós ver como o Concílio declarou solenemente que a Igreja não recusa o mundo em que vive, nem o seu progresso e desenvolvimento, mas que o compreende e ama'.
'Compreenderá que foi uma grande alegria para nós ver como o Concílio declarou solenemente que a Igreja não recusa o mundo em que vive, nem o seu progresso e desenvolvimento, mas que o compreende e ama'.
'As pessoas da Obra abominam o segredo, porque são fiéis correntes, iguais aos outros'.
'As pessoas da Obra abominam o segredo, porque são fiéis correntes, iguais aos outros'.
'Pregunta-me também qual é o critério com que meço e julgo as coisas. A resposta é muito simples: santidade, frutos de santidade'.
'Pregunta-me também qual é o critério com que meço e julgo as coisas. A resposta é muito simples: santidade, frutos de santidade'.

12 perguntas sobre o Opus Dei, 12 respostas de S. Josemaria
S. Josemaria fala do 2 de Outubro de 1928
Temas Atuais do Cristianismo
Glossário: O Opus Dei de A a Z (em espanhol)

O silêncio que nos preocupa

…or at least isn’t
necessarily good news
Ao silêncio normalmente associo a pausa para refletir, para falar com Deus e com os meus botões, mas há silêncios que me deixam preocupado. Quando não tenho notícias de alguém que sei ter problemas de saúde e não tenho meio direto e discreto para saber notícias, resta-me a oração de súplica por essa pessoa. Não confundamos este silêncio com o daqueles que pura e simplesmente se desejam manter afastados, mas de quem se vai tendo notícias aqui e acolá.

Há silêncios que configuram formas de alheamento de tudo e de todos o que normalmente não é nada salutar, pelo que rogo aos meus familiares e amigos naturais e virtuais que se lembrem da amizade que lhes tenho e sobretudo que têm um ombro amigo à sua espera e se não o acharem suficientemente confortável, sólido e fiável, que recorram a todos os outros como eu que se preocupam e estão igualmente preocupados e disponíveis.

Obrigado e até já!

JPR

Significado da Cruz

A Cruz, um símbolo horrível?

Em certo sentido, a Cruz envolve um horror que não lhe devemos tirar. É o modo de execução mais cruel que a Antiguidade conhecia e que não se podia aplicar aos romanos, porque mancharia a honra romana. Ver que o mais puro dos homens, que era mais do que um homem, é executado de modo tão cruel pode levar-nos, primeiro, a ficar horrorizados. Mas precisamos horrorizar-nos connosco e sair do nosso comodismo.

Neste ponto, penso que Lutero estava com a razão quando disse que o homem tem de se horrorizar consigo mesmo para chegar ao bom caminho.

Mas não se há-de ficar no horror, não se trata apenas de horror, pois quem nos olha do alto da Cruz não é um homem fracassado, um homem desesperado, uma das terríveis vítimas da humanidade: esse Crucificado diz-nos uma coisa diferente do que nos dizem Espartaco e os seus seguidores derrotados. Dessa Cruz, olha-nos uma bondade que permite que a vida recomece mesmo no horror. Olha-nos a própria bondade de Deus, que se entrega às nossas mãos, que se dá a nós e que, por assim dizer, suporta connosco todo o horror da História. Numa perspectiva mais profunda, esse sinal, que nos apresenta a dimensão perigosa do ser humano e todos os seus horrores, deixa-nos então contemplar ao mesmo tempo o Deus mais forte, mais forte na sua fraqueza, e o facto de sermos amados por Ele. É um sinal de perdão, na medida em que dá esperança, mesmo nos abismos da História.

Actualmente, faz-se muito a pergunta de como ainda seria possível falar de Deus depois de Auschwitz e de como ainda seria possível fazer teologia. Eu diria que a Cruz resume antecipadamente o horror de Auschwitz. Deus está crucificado e diz-nos que esse Deus, aparentemente tão fraco, é o Deus que -incompreensivelmente - perdoa, e que, na sua aparente ausência, é o Deus mais forte.

(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘O sal da terra’, págs. 22-23)

«Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes? [...] Amas-Me? [...] Amas-Me?»

São João XXIII (1881-1963), papa
Diário da Alma

O sucessor de Pedro sabe que, na sua pessoa e na sua actividade, é a graça e a lei do amor que sustenta, vivifica e embeleza tudo; e, diante do mundo inteiro, a Igreja Santa apoia-se no intercâmbio de amor entre Jesus e ele, Simão Pedro, filho de João, como sobre um alicerce visível e invisível: Jesus invisível aos olhos da carne, o Papa, Vigário de Cristo, visível ao mundo inteiro. Meditando neste mistério de amor íntimo entre Jesus e o Seu Vigário, que honra e que felicidade para mim, mas ao mesmo tempo que motivo de confusão pela pequenez, pelo nada que sou.

A minha vida deve ser toda de amor a Jesus e, simultaneamente, uma completa efusão de bondade e de sacrifício por cada alma e por todo o mundo. É rapidíssima a passagem do episódio evangélico que proclama o amor do Papa a Jesus e, através Dele, às almas, à lei do sacrifício. O próprio Jesus anuncia-o assim a Pedro: «Eu te garanto: quando eras mais novo, punhas o cinto e ias para onde querias. Quando fores mais velho, estenderás as mãos e outro te apertará o cinto e te levará para onde não queres ir» (Jo 21, 18).

Pela graça do Senhor, ainda não entrei nesta velhice mas, com os meus oitenta anos feitos, encontro-me à porta. Portanto, devo estar preparado para este último trajecto da minha vida, em que me esperam limitações e sacrifícios, até ao sacrifício da vida corporal e ao abrir da vida eterna. Jesus, estou disposto a estender as minhas mãos, já trémulas e fracas, a deixar que outro me ajude a vestir-me e me ajude na caminhada.

Senhor, a Pedro acrescentaste: «e te levará para onde não queres ir». Depois de tantas graças, multiplicadas durante a minha longa vida, não há nada que não queira. Jesus, Tu revelaste-me o caminho: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores» (Mt 8, 19).

O Evangelho do dia 22 de maio de 2015

Depois de comerem, disse Jesus a Simão Pedro: «Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes?». Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Jesus disse-lhe: «Apascenta os Meus cordeiros». Voltou a perguntar pela segunda vez: «Simão, filho de João, amas-Me?». Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Jesus disse-lhe: «Apascenta as Minhas ovelhas». Pela terceira vez disse-lhe: «Simão, filho de João, amas-Me?». Pedro ficou triste porque, pela terceira vez, lhe disse: «Amas-Me?», e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo». Jesus disse-lhe: «Apascenta as Minhas ovelhas». «Em verdade, em verdade te digo: Quando tu eras mais novo, cingias-te e ias onde desejavas; mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde tu não queres». Disse isto, indicando com que género de morte havia Pedro de dar glória a Deus. Depois de assim ter falado, disse: «Segue-Me». 

Jo 21, 15-19