Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quarta-feira, 1 de julho de 2015

"VINDE A MIM, TODOS OS QUE ESTAIS CANSADOS E OPRIMIDOS"...

Como a vida lhe pesava nos ombros!

Como tudo lhe parecia perdido, os anos que tinha vivido, a entrega que tinha feito àquela família, o empenho que nela tinha colocado!

Tudo se desmoronava como um castelo de cartas, agora que, depois de anos e anos de violência doméstica tinha decidido pôr fim àquela união!

O que mais lhe custava ao ter saído de casa por vontade própria era pensar que não se podia aproximar mais daquEle que tinha sido e era a sua força, a sua alegria, no meio de tanta incerteza, de tanta dor, de tanta revolta.

Tinham-lhe dito que se saísse de casa, se abandonasse aquela união, aquele casamento, nunca mais poderia aproximar-se da Comunhão, da Eucaristia, e isso tinha-a levado sempre a dar cada vez mais de si, a perdoar cada vez mais as afrontas, as violências, mas agora já não podia mais porque a sua vida estava em risco e com ela a dos seus filhos.

Não conseguia imaginar a sua vida sem a Comunhão, sem a Eucaristia, sem sentir e viver a presença constante do amor de Deus na sua vida.

Não podia ser assim!

Ela sentia que não podia ser assim!

Diziam-lhe que não, que não havia possibilidades, que era Doutrina da Igreja, que a Igreja não aceitava as pessoas que “abandonavam” os seus casamentos, mas ela, embora por vezes revoltada com aquela Igreja, sentia que algo estava mal, que verdadeiramente não era assim.

Deus não podia querer que ela colocasse a sua vida e a dos seus filhos em risco, perante a violência que aquele que ela tinha escolhido para seu marido e pai dos seus filhos, vinha exercendo diariamente sobre ela e sobre eles.

Ela sabia que tinha feito tudo, tudo o que lhe era humanamente possível, para resolver aquela situação.

Tinha perdoado, tinha esquecido, tinha calado, tinha rezado, (se tinha rezado, todos os dias fervorosamente), tinha pedido ajuda para ele e para ela e nada, nada mudava, a violência continuava e cada vez mais perigosa, (parecia até que a sua maneira de estar, de perdoar, ainda o levava a fazer pior), de tal modo que sentia que a sua vida agora estava verdadeiramente em risco e que portanto tinha de tomar a decisão que acabou por tomar.

Mas não acreditava, apesar de tudo o que lhe diziam, que a Igreja não a acolhesse no seu seio, não acolhesse aqueles que sofrem.

Decidiu ir falar com alguém que realmente lhe dissesse a verdade da Doutrina, a verdade do que a Igreja dizia sobre o problema que ela vivia e sobre o qual tinha tomado aquela decisão tão amarga e difícil.

Procurou um sacerdote, alguém da sua confiança, aquele que tantas vezes a tinha acolhido e com ela tinha vivido esses momentos tão difíceis, e abriu-lhe o coração.

Queria saber, como tantos lhe diziam, se já não podia ir à igreja, se já não podia participar da Eucaristia, se já não podia confessar-se e receber a Comunhão.

Queria saber enfim, se aos olhos da Igreja ela era uma proscrita, uma não desejada, uma que já não era aceite.

O sacerdote, mais uma vez, ouviu-a em silêncio, pesou todas as suas palavras, todas as suas dores, todas as suas razões, todos os seus motivos e por fim disse-lhe:

- Conheço bem o teu caso, o teu problema e a amargura, a dor, com que tomaste a decisão de sair de casa com os teus filhos.

Sei bem que fizeste tudo o que estava ao teu alcance para evitar esta decisão, que chegaste até a humilhar-te, para tentar salvar o teu casamento.

Quero dizer-te em primeiro lugar que a Igreja nunca afastou ninguém do seu seio, pelo contrário tenta sempre acolher aqueles que sofrem, aqueles que se sentem sozinhos, aqueles que procuram em Deus a realização plena das suas vidas.

Muitos membros da Igreja não entendem assim, (não os podemos condenar, porque com certeza não têm o conhecimento suficiente do Mistério que é a Igreja), e por isso julgam o que não deviam julgar e tomam como certas, opiniões que afinal são só suas.

Mas não, a Igreja não condena o teu acto, porque o tomaste depois de esgotadas todas as hipóteses de solução, depois de teres tentado até ao limite das tuas forças salvar o Matrimónio que um dia contraíste livremente perante Deus, e que por razões várias acabou por se transformar numa prisão perigosa para ti e para os teus filhos, deixando de ser a realização plena do amor entre homem e mulher que Deus quis e para o qual os criou.

Podes, digo-te eu, participar da Eucaristia, comungar o Corpo e o Sangue de Cristo, confessar-te sempre que precisares e o desejares, apenas com a condição de te manteres casta, sem te unires a outro homem, a não ser que, por razões ponderosas que eu não posso analisar aqui, o Tribunal Eclesiástico analisando as condições em que foi celebrado e vivido o teu Matrimónio, a teu pedido, possa afirmar que o Sacramento do Matrimónio não aconteceu verdadeiramente, e decretar a sua nulidade.

Mas para que não tenhas dúvidas no que te afirmo aqui te leio os cânones do Código de Direito Canónico que confirmam as minhas palavras:

«Cân 1151 – Os conjugues têm o dever e o direito de manter a convivência conjugal, a não ser que uma causa legitima os escuse.

Cân 1153 - § 1. Se um dos conjugues provocar grave perigo da alma ou do corpo para o outro ou para os filhos, ou de algum modo tornar a vida comum demasiado dura, proporciona ao outro causa legítima de separação, quer por decreto do Ordinário do lugar, quer também, se houver perigo na demora, por autoridade própria.
§ 2. Em todos os casos, cessando a causa da separação, deve ser restaurada a vida conjugal em comum, a não ser que a autoridade eclesiástica determine outra coisa.»

Claro que para teres a certeza da bondade da tua decisão, mesmo depois de tomada, deves recorrer à ajuda no discernimento de um sacerdote, ou até mesmo do teu Bispo, que te ajudará a dares os passos certos para conformares a tua decisão com a Doutrina da Igreja.

Mas para além destas instruções que te informo, há muito mais documentos da Igreja que atestam a possibilidade dos separados, por razões como a tua e outras mais, poderem continuar a receber os Sacramentos da Igreja, e entre os quais te cito, a Exortação Apostólica “Familiares consortio”, de João Paulo II, que no ponto 83 diz:

«Motivos diversos, quais incompreensões recíprocas, incapacidade de abertura a relações interpessoais, etc. podem conduzir dolorosamente o matrimónio válido a uma fractura muitas vezes irreparável. Obviamente que a separação deve ser considerada remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis.

A solidão e outras dificuldades são muitas vezes herança para o cônjuge separado, especialmente se inocente. Em tal caso, a comunidade eclesial deve ajudá-lo mais que nunca; demonstrar-lhe estima, solidariedade, compreensão e ajuda concreta de modo que lhe seja possível conservar a fidelidade mesmo na situação difícil em que se encontra; ajudá-lo a cultivar a exigência do perdão própria do amor cristão e a disponibilidade para retomar eventualmente a vida conjugal anterior.

Análogo é o caso do cônjuge que foi vítima de divórcio, mas que - conhecendo bem a indissolubilidade do vínculo matrimonial válido - não se deixa arrastar para uma nova união, empenhando-se, ao contrário, unicamente no cumprimento dos deveres familiares e na responsabilidade da vida cristã. Em tal caso, o seu exemplo de fidelidade e de coerência cristã assume um valor particular de testemunho diante do mundo e da Igreja, tornando mais necessária ainda, da parte desta, uma acção contínua de amor e de ajuda, sem algum obstáculo à admissão aos sacramentos.»

A Igreja não te condena, portanto, mas ao contrário quer acolher-te, quer ajudar-te a viveres a tua situação dolorosa e na comunhão em Igreja, em comunhão com Cristo, encontrares razões de esperança, de paz e até de alegria.

Lembra-te que é Jesus Cristo Quem nos diz:

«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito.

Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» Mt 11,28-30

Olhou para o sacerdote agradecida e disse-lhe com a voz embargada:

Obrigado Padre, porque me fez sentir acolhida e amada pela Igreja que eu amo.

Sei e percebo que é muito difícil o que a Igreja me pede, mas acredito também que na comunhão e na entreajuda será possível levar a vida digna que sempre quis viver e as circunstâncias não permitiram.

Acredito também que se cair, porque sou pecadora, o perdão de Deus é muito maior que o meu pecado e na Confissão reencontrarei a graça de Deus na minha vida e que ela me dará forças para viver as provações que vou ter de enfrentar.

Mas tenho confiança, tenho esperança, que o amor de Deus me fará sentir que a minha vida tem sentido e é querida por Deus e amada na Igreja e é isso mesmo que quero transmitir aos meus filhos profundamente magoados no seu íntimo.

De pé, o sacerdote abençoou-a, e ela saiu de cabeça erguida da igreja, com a paz no coração, a esperança no olhar, sabendo-se filha de Deus e pedra viva da Igreja.

Nota:
Esta é uma história inventada, mas que, para além obviamente de uma certa bondade na descrição do problema, sua solução e aceitação, quer chamar a atenção para o facto de que aquilo que se diz e que muitas vezes se toma como certo em relação à Igreja, nem sempre corresponde à realidade.

Monte Real, 9 de Julho de 2008

Joaquim Mexia Alves

«Rogaram-Lhe que Se retirasse daquela região»

Concílio Vaticano II

Constituição sobre a Igreja no mundo contemporâneo (Gaudium et spes), §§ 9-10

O mundo actual apresenta-se, assim, simultaneamente poderoso e débil, capaz do melhor e do pior, tendo patente diante de si o caminho da liberdade ou da servidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade ou do ódio. E o homem torna-se consciente de que a ele compete dirigir as forças que suscitou, e que tanto o podem esmagar como servir. Por isso se interroga a si mesmo.

Na verdade, os desequilíbrios de que sofre o mundo actual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem. Porque no íntimo do próprio homem muitos elementos se combatem. Enquanto, por uma parte, ele se experimenta, como criatura que é, multiplamente limitado, por outra sente-se ilimitado nos seus desejos, e chamado a uma vida superior. Atraído por muitas solicitações, vê-se obrigado a escolher entre elas e a renunciar a algumas. Mais ainda, fraco e pecador, faz muitas vezes aquilo que não quer e não realiza o que desejaria fazer (Rom 7, 15). Sofre assim em si mesmo a divisão, da qual tantas e tão grandes discórdias se originam para a sociedade. [...]

Perante a evolução actual do mundo, cada dia são mais numerosos os que põem ou sentem com nova acuidade as questões fundamentais: Que é o homem? Qual o sentido da dor, do mal, e da morte, que, apesar do enorme progresso alcançado, continuam a existir? Para que servem essas vitórias, ganhas a tão grande preço? Que pode o homem dar à sociedade, e que coisas pode dela receber? Que há para além desta vida terrena?

A Igreja, por sua parte, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece aos homens, pelo Seu Espírito, a luz e a força para poderem corresponder à sua altíssima vocação; nem foi dado aos homens sob o céu outro nome, no qual devam ser salvos (Act 4, 12). Acredita também que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e mestre. E afirma, além disso, que, subjacentes a todas as transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é Cristo, o mesmo ontem, hoje, e para sempre (Heb 13, 8).

O Evangelho do dia 1 de julho de 2015

Quando Jesus chegou à outra margem do lago, à região dos gadarenos, vieram-Lhe ao encontro dois endemoninhados, que saíam dos sepulcros. Eram tão ferozes que ninguém ousava passar por aquele caminho. E puseram-se a gritar, dizendo: «Que tens Tu connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?». Estava não longe deles uma vara de muitos porcos, que pastavam. Os demónios suplicaram a Jesus: «Se nos expulsas daqui, manda-nos para aquela vara de porcos». Ele disse-lhes: «Ide». Eles, saindo, entraram nos porcos, e imediatamente toda a vara se precipitou, com ímpeto, de um despenhadeiro, no mar e morreram nas águas. Os pastores fugiram, e indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos do demónio. Então toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, quando O viram, pediram-Lhe que se retirasse do seu território. 

Mt 8, 28-34