Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Este trecho do Evangelho escrito por São Lucas poderia ser o Evangelho “oficial” do Ano Jubilar da Misericórdia

De facto, aparte a magistral descrição da parábola proferida por Jesus Cristo, a beleza do texto, a economia das palavras, o ritmo da descrição – características deste Evangelista – põem-nos perante um autêntico quadro ou, melhor, perante um filme que se desenrola aos nossos olhos prendendo-nos a atenção e excitando os nossos sentidos.

São Josemaria recomendou: aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como um personagem mais. [i]

É isso mesmo que desejo fazer.

Desde logo vou tentar personificar um personagem da parábola:

O Estalajadeiro.

Talvez possa parecer estranho ter escolhido este “papel” que, obviamente, parece não ser “central” na parábola.
Mas, eu, que nada sei nem de parábolas nem de personagens, muito menos me sinto capaz de lhes atribuir mérito ou demérito, o grau de importância que possam ter, apaixono-me por este.

Imagino-me à porta do meu estabelecimento onde recebo hóspedes, normalmente viajantes que percorrem os caminhos poeirentos e agrestes da Palestina e que procuram um lugar onde tomar uma refeição, descansar um pouco ou passar a noite com um mínimo de conforto.

Estando ali, no meu posto de trabalho, deparo-me com uma cena estranha:

Um homem que se aproxima a pé, conduzindo a sua cavalgadura pela arreata e, mal se mantendo direito em cima desta, um outro homem com os vestidos em farrapos, cheio de feridas vendadas com panos embebidos em azeite e vinho num estado lastimoso.
Apresso-me a ir ao seu encontro e tenho logo uma primeira reacção de enorme dúvida: quem conduz o ferido é um Samaritano!

O que faz um Samaritano dirigir-se ao meu estabelecimento?

Sim, eu, que sou judeu, não “morro de amores” pelos samaritanos que, aliás, me pagam na mesma moeda.
Um antagonismo ancestral – que ninguém sabe exactamente quando começou e porquê – divide os filhos de Israel: Samaritanos e Judeus.

Mas, surpreendentemente, o Samaritano aproxima-se de mim e diz-me:

‘Encontrei este teu irmão estendido na vera do caminho porque caiu nas mãos dos ladrões, que o despojaram, o espancaram e retiraram-se, deixando-o meio morto [ii]. Tentei prestar-lhe o auxílio possível ligando-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, mas não podia deixá-lo ali naquele estado por isso pu-lo sobre o meu jumento e trouxe-o até esta estalagem para melhor cuidar dele. [iii] Ajuda-me a levá-lo para dentro e encontra uma acomodação confortável onde o possamos fazer’.

Fiquei atónito, sem palavras e levei algum tempo a reagir.

Como que por encanto desvaneceram-se as minhas dúvidas e pruridos e ajudei a transportar o ferido para a melhor habitação de que dispunha.

Deitámos o homem numa cama, despimos-lhe os farrapos, arranjei uma túnica lavada que lhe vestimos e, enquanto o Samaritano observava de novo as feridas renovando as ligaduras e unguentos fui à cozinha buscar um caldo de sopa que a custo conseguiu engolir.

Tendo caído num sono profundo, deixámo-lo a descansar e retiramo-nos; o samaritano para uma acomodação na parte superior da casa, eu para o meu posto à entrada da estalagem.

A noite ia adiantada e como não era de prever aparecessem novos hóspedes, também fui deitar-me.

Mas não conseguia conciliar o sono pensando em tudo quanto acontecera e algo apreensivo quanto ao dia seguinte.

Logo pela manhã o samaritano preparou-se para seguir viagem mas, antes que eu pudesse perguntar o que fosse, abriu a sua bolsa, tirou dois denários, e deu-mos dizendo: Cuida dele; quanto gastares a mais, eu to pagarei quando voltar. [iv]

Ainda hoje, passado tanto tempo, me admiro com a minha atitude!

Nem por um momento me ocorreu que o Samaritano não faria exactamente como me disse e que não ficaria por receber o que viesse a gastar com o pobre coitado agora a meu cargo.

Sim, eu que sou judeu e tenho um negócio, não posso dar-me ao luxo de receber hóspedes sem ter a certeza que serei ressarcido das despesas de estadia tanto mais que estas seriam bastante fora do “normal”: os tratamentos, ligaduras, unguentos e outros cuidados que seriam necessários.
Volto a repetir: Ainda hoje, passado tanto tempo, me admiro com a minha atitude!

Pela noitinha o doente estava visivelmente melhor e começou por perguntar-me como tinha ido ali parar, o que acontecera…

Contei-lhe tudo, claro, e o seu espanto foi tão grande como tinha sido o meu no dia anterior quando o estranho “cortejo” aparecera à minha porta.

Não se lembrava de nada, tão súbita e violenta tinha sido a acção dos salteadores, nem sequer quanto tempo estivera prostrado por terra.

Mas achava estranho que ninguém o tivesse visto naquela situação, já que o caminho onde tudo acontecera era muito concorrido.

Eu também – pensando melhor – achei estranho, mas como estou habituado à indiferença das pessoas perante as necessidades dos outros não me custava acreditar que alguns o terão visto e ao dar-se conta da situação tivessem optado por seguir adiante livrando-se de “trabalhos” e incómodos.

De facto há tanta gente que vai pelos caminhos da vida tão cheios de si próprios, absorvidos com os seus assuntos que olhando não vêm e, se acaso vêm, ficam indiferentes ao que, pensam, não lhes diz respeito.

Tomei uma decisão:

A partir de agora a porta da minha estalagem estará sempre aberta a quem tiver necessidade de entrar, não a fecharei a ninguém por motivos de raça, cor da pele ou religião e independentemente de possuírem meios ou recursos para cobrir as despesas que porventura façam.

Esta decisão consola-me muito porque penso que, um dia, pode acontecer-me o mesmo que ao pobre homem assaltado e espancado pelo salteadores e, então precisarei de alguém – um Samaritano… talvez – que se condoa de mim e me preste assistência.

(ama, comentário sobre Lc 10 25-37 2016.01.26)



[i] Cfr. Amigos de Deus, nn. 253. 255
[ii] Cfr. Lc 10, 30
[iii] Cfr. Lc 10, 34
[iv] Cfr. Lc 10, 35

Papa Francisco na Audiência geral (resumo em português)

Locutor: Como ouvimos no texto da Sagrada Escritura lido ao início, Deus escutou os gemidos dos filhos de Israel na servidão. Na sua misericórdia, atende o grito de socorro; não desvia o olhar para não ver, não é indiferente ao sofrimento humano. O Senhor intervém para salvar, suscitando homens capazes de ouvir o gemido do sofrimento e agir em favor dos oprimidos. Como mediador de libertação para o seu povo, envia Moisés, que vai ter com o Faraó para o convencer a deixar partir Israel e depois guia-o no caminho para a liberdade. Moisés, quando era menino, fora salvo das águas do rio Nilo pela misericórdia divina; e agora é feito mediador daquela mesma misericórdia a favor do seu povo, permitindo-lhe nascer para a liberdade salvo das águas do Mar Vermelho. É que a misericórdia de Deus actua sempre para salvar. Através do seu servo Moisés, o Senhor guia Israel no deserto como se fosse um filho, educa-o na fé e faz aliança com ele criando um vínculo fortíssimo de amor, uma relação semelhante à que existe entre pai e filho e entre marido e esposa. É uma relação particular, exclusiva, privilegiada de amor, fazendo dos israelitas «um reino de sacerdotes e uma nação santa». Vede a que ponto chega a misericórdia divina! Pois bem, é isto mesmo que nós próprios nos tornamos para Deus, deixando-nos salvar por Ele e acolhendo a sua aliança. A misericórdia divina torna o homem precioso, como um tesouro pessoal que pertence ao Senhor, que Ele guarda e no qual Se compraz. Tornamo-nos jóias preciosas nas mãos do Pai bom e misericordioso.

Santo Padre:
Carissimi pellegrini di lingua portoghese, benvenuti! Nel salutarvi tutti, specialmente i fedeli di Brasília e São José dos Campos, vi auguro che niente e nessuno possa impedirvi di vivere e crescere nell’amicizia di Dio Padre; lasciate invece che il suo amore sempre vi rigeneri come figli e vi riconcili con Lui e con i fratelli. Scenda su di voi e sulle vostre famiglie l’abbondanza delle sue benedizioni.

Locutor: Queridos peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! A todos vos saúdo, especialmente aos fiéis de Brasília e São José dos Campos, desejando-vos que nada e ninguém possa impedir-vos de viver e crescer na amizade de Deus Pai; mas deixai que o seu amor sempre vos regenere como filhos e vos reconcilie com Ele e com os irmãos. Desça, sobre vós e vossas famílias, a abundância das suas bênçãos.

Família de Deus

A Igreja não é uma instituição afastada das pessoas, baseada em teorias e regras. Somos todos os membros da igreja, que é uma comunhão de fiéis. A primeira célula da sociedade, como disse o Concílio Vaticano II, é a família como Igreja doméstica. Tudo tem início na família: a dimensão humana, a evolução da personalidade, dos valores, da identidade de uma pessoa... Por isso, é absolutamente necessário ter uma ligação/relacionamento com o pai, com a mãe e com os irmãos. Estas são também as dimensões fundamentais na nossa relação com Deus. A igreja é a família de Deus. Todos nós temos um Pai no Céu e nós amamos a família de Deus, mas isto começa a partir da família natural em que nascemos. A nossa família é o modelo da grande família de Deus.

(D. Gerhard Ludwig Müller – Perfeito da Congregação da Doutrina da Fé in “PARAULA” na sua edição de 26 de janeiro de 2014 com tradução de JPR)

O Evangelho de dia 27 de janeiro de 2016

Começou de novo a ensinar à beira-mar; e juntou-se à Sua volta tão grande multidão que teve de subir para uma barca e sentar-Se dentro dela, no mar, enquanto toda a multidão estava em terra na margem. E ensinava-lhes muitas coisas por meio de parábolas. Dizia-lhes segundo o Seu modo de ensinar: «Ouvi: Eis que o semeador saiu a semear. E ao semear, uma parte da semente caiu ao longo do caminho, e vieram as aves do céu e comeram-na. Outra parte caiu entre pedregulhos, onde tinha pouca terra, e logo nasceu, por não ter profundidade a terra; mas, quando saiu o sol, foi queimada pelo calor e, como não tinha raíz, secou. Outra parte caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e sufocaram-na e não deu fruto. Outra caiu em terra boa; e deu fruto que vingou e cresceu, e um grão deu trinta, outro sessenta e outro cem». E acrescentava: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça». Quando Se encontrou só, os doze, que estavam com Ele, interrogaram-n'O sobre a parábola. Disse-lhes: «A vós é concedido conhecer o mistério do reino de Deus; porém, aos que são de fora, tudo se lhes propõe em parábolas, para que, olhando não vejam, e ouvindo não entendam; não aconteça que se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados». E acrescentou: «Não entendeis esta parábola? Então como entendereis todas as outras? O que o semeador semeia é a palavra. Uns encontram-se ao longo do caminho onde ela é semeada; mas logo que a ouvem vem Satanás tirar a palavra semeada neles. Outros recebem a semente em terreno pedregoso; ouvem a palavra, logo a recebem com alegria, mas não têm raízes em si mesmos, são inconstantes; depois, levantando-se a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbem imediatamente. Outros recebem a semente entre espinhos; ouvem a palavra, mas os cuidados mundanos, a sedução das riquezas e as outras paixões, entrando, afogam a palavra, e ela fica infrutuosa. Aqueles que recebem a semente em terra boa, são os que ouvem a palavra, recebem-na, e dão fruto, um a trinta, outro a sessenta, e outro a cem por um».

Mc 4, 1-20