Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 13 de março de 2016

Sobre a eutanásia

Na triste discussão em que nos envolvemos sobre a eutanásia não tenho ouvido (talvez por falta de atenção) uma consideração que me parece elementar: nós não somos nossos. Somos nossos no sentido de que temos o dever e o direito de orientar a nossa vida segundo o que nos parece melhor para nós e para os outros, pois somos devedores àqueles que nos criaram, nos educaram, nos forneceram inúmeros meios de subsistência, de cultura, de segurança, de amparo nas penas, de congratulação nas alegrias, de saúde, etc. Para não falar de Deus, que nos deu a existência e tudo, e muito mais, do que antes dissemos. Mas deixemos o que não se quer ouvir e reparemos, pelo menos, que não «pertencemos» só a nós. Pertencemos a todos, porque, sem eles, não seríamos nós. Não seríamos, pura e simplesmente. É uma questão de justiça elementar.

E o maior bem que fazemos é sermos e desenvolver-nos - «realizar-nos», diz-se – o melhor que pudermos, pois cada um é, para os outros, uma riqueza: não há ninguém como ele. Somos todos diferentes. Ninguém perfeito, mas cada um dotado de qualidades, memórias, capacidades, gostos, pontos de vista, modos de ser, que nos enriquecem ou proporcionam experiências, conhecimentos e ocasiões de serviço, de compreensão, de maturação, sem as quais não nos desenvolveríamos nós. Incluindo os mais doentes e incapacitados, que são um centro de aflições, mas também da maior generosidade e maiores afeições. Sem compaixão, não seríamos humanos.

Equiparar o direito à vida ao direito à morte é equiparar dois contrários. Tenho direitos porque tenho deveres. O imperativo é o dever; não o direito, a que por vezes posso renunciar; ao dever, nunca. O direito à vida nasce do dever de viver, enquanto não chega a morte. Enquanto vivo, tudo o que faça de bem é pouco para o que devo aos pais, à família, aos amigos, à sociedade, ao mundo. A Deus, nem se diga. Para ter direito à morte seria preciso pedir licença a todos os que nos amam, a todos os que nos servem, a todos, afinal. A Deus, nem se diga.

O direito a morrer «docemente» (na medida do possível) corresponde apenas ao dever de procurar manter a consciência até ao fim desta etapa terrena. Aliás, o que os médicos (propriamente ditos) sempre tiveram o cuidado de fazer. O «direito à morte» só se pode entender nesse sentido: o de enfrentar essa hora decisiva com a maior tranquilidade possível. O direito a não alongar umas horas da nossa existência à custa de sofrimentos supérfluos, acrescentados aos da agonia.
Hugo de Azevedo

Bom Domingo do Senhor!

Tenhamos a inteligência de coração para não acusarmos e condenarmos o próximo como fizeram os fariseus de que nos fala o Evangelho de hoje (Jo 8, 1-11).

Com humildade reconheçamos que ao vermos o pecado no próximo também nós somos pecadores, mesmo que o sejamos em menor gravidade, mas foi o Senhor que ensinou a Pedro a formula que nos tem absolvido ao longo das nossas vidas “setenta vezes sete”.

Louvado seja Deus Nosso Senhor pela sua infinita misericórdia!

Viagem ao mundo perdido

Convento / Palácio Nacional de Mafra
Os investigadores Luana Giurgevich e Henrique Leitão repararam que, nalguns exemplares da Biblioteca Nacional (em Lisboa), havia marcas de posse de antigos conventos. Por aí começaram a pesquisa, para tentar recuperar o inventário dessas colecções e descobrir os hábitos de leitura e o conhecimento científico dos primitivos possuidores desses livros.

O trabalho de seis anos teve vários resultados. Em primeiro lugar, um livro de quase mil páginas, chamado «Clavis Bibliothecarum», com catálogos e inventários de bibliotecas religiosas em Portugal desde o século X até à extinção das ordens religiosas.

Em segundo lugar, descobriu-se que, há uns séculos, houve em Portugal muitas bibliotecas de grandes dimensões, apetrechadas com os livros científicos mais modernos. Quase todos os livros se perderam. O terramoto de 1755 deu um contributo. Depois, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas e as respectivas bibliotecas foram confiscadas e perderam-se. A seguir, as invasões francesas e principalmente os ataques à Igreja, em particular a extinção das ordens religiosas no século XIX, deram descaminho ao resto. Do que foi um património cultural riquíssimo, acumulado e valorizado durante séculos, não resta praticamente nada, a não ser os catálogos do que havia e já não há. Giurgevich e Leitão identificaram mais de um milhar de inventários de livros, provenientes de cerca de quatrocentos mosteiros e casas religiosas no nosso país. Em Portugal, praticamente só a Igreja se interessava por livros e, sobretudo, só a Igreja é que os disponibilizava à população, mas não estávamos mal servidos.

Poucos anos antes de começar a destruição das bibliotecas portuguesas, o Embaixador português em Londres escrevia para Lisboa, ao Rei D. José: «Esta universidade [a de Cambridge] se compõe de 17 colégios e a de Oxford de 23; eu corri todos novamente e a outra tinha visto já também e a sua grande biblioteca, que consta de muitas casas, mas nada digno de notar; já disse a Vossa Senhoria que tudo isto se parece com as bibliotecas dos nossos conventos».

É bom ficar a saber, com dados muito concretos, que Portugal teve a oportunidade de ser um país muito avançado, culturalmente e cientificamente. Só é pena termos perdido, logo a seguir, essa oportunidade, em nome da tentativa de erradicar a influência da Igreja católica.

Por que é que os conventos multiplicavam as bibliotecas, atafulhadas em livros? Os monges acreditavam que «claustrum sine armario, quasi castrum sine armamentario» (claustro sem biblioteca, era como uma fortaleza sem armas). O argumento soa belicoso, mas naquela época era convincente, a julgar pelos milhares e milhares de livros destas centenas de bibliotecas das instituições da Igreja.

Havia de tudo. Literatura, teologia, história, ciências da natureza, medicina, matemática... mas havia também arte e livros preciosos, como as quatro Bíblias conservadas no mosteiro de Alcobaça dentro da arca chamada «das três chaves».

Há uma semana, na sessão de lançamento do livro, D. Manuel Clemente comentou que este imenso catálogo desvendou algo da cultura do nosso país nessas épocas passadas: a primeira indicação é que era uma cultura sistemática.

Realmente, a dispersão do espólio das antigas bibliotecas portuguesas tinha tirado contexto aos livros que sobreviveram. Os poucos que restavam pareciam exemplares soltos, até esta recuperação dos inventários mostrar a estrutura lógica das colecções.

Biblioteca Joanina - Universidade de Coimbra
A investigação que deu origem ao «Clavis Bibliothecarum» começou como um meio para compreender e caracterizar os mecanismos de aquisição e circulação das ideias e dos livros científicos. Porque o desenvolvimento da ciência num país depende muito da formação científica e das bibliotecas e isso explica, em parte, o actual atraso português. Quando outros países puseram a render o seu património de conhecimento, em Portugal, dedicámo-nos a destruir os lugares privilegiados da ciência. Deu trabalho, sem dúvida, arruinar tão completamente o que havia, mas, ao fim de três séculos, conseguiu-se.

Os autores do «Clavis Bibliothecarum» passaram seis anos a abrir caixas e consultar documentação sobre o património perdido. Um trabalho brilhante, que respeita minuciosamente a história. Mas deixa o leitor desassossegado, a pensar como podia ser hoje o nosso país, se não fosse esta militância destruidora da cultura católica.
José Maria C.S. André
Spe Deus
13-III-2016

«Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra»

São João Paulo II (1920-2005), papa 

Encíclica «Dives in misericordia», §2

«Ninguém jamais viu a Deus», escreve São João para dar maior relevo à verdade segundo a qual «o Filho unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer» (Jo 1,18). [...] A verdade revelada por Cristo a respeito de Deus, «Pai das misericórdias» (2Co 1,3), permite-nos «vê-Lo» particularmente próximo do homem, sobretudo quando este sofre, quando é ameaçado no próprio coração da sua existência e da sua dignidade.

Por este motivo, na atual situação da Igreja e do mundo, muitos homens e muitos ambientes, guiados por vivo sentido de fé, voltam-se quase espontaneamente, por assim dizer, para a misericórdia de Deus. São impelidos a fazê-lo certamente pelo próprio Cristo, o Qual, mediante o Seu Espírito, continua operante no íntimo dos corações humanos. O mistério de Deus «Pai das misericórdias» revelado por Cristo torna-se, no contexto das hodiernas ameaças contra o homem, como que um singular apelo dirigido à Igreja.

Pretendo acolher tal apelo; desejo inspirar-me na linguagem da revelação e da fé, linguagem eterna e ao mesmo tempo incomparável pela sua simplicidade e profundidade, para com ela exprimir, uma vez mais, diante de Deus e dos homens, as grandes preocupações do nosso tempo. A revelação e a fé ensinam-nos, efetivamente, não tanto a meditar de modo abstrato sobre o mistério de Deus, «Pai das misericórdias», quanto a recorrer a esta mesma misericórdia em nome de Cristo e em união com Ele. Cristo não disse, porventura, que o nosso Pai, Aquele que «vê o que é secreto» (Mt 6,4), está continuamente à espera, por assim dizer, de que nós, apelando para Ele em todas as necessidades, perscrutemos cada vez mais o Seu mistério: o mistério do Pai e do Seu amor? É meu desejo, portanto, que estas considerações sirvam para aproximar mais de todos tal mistério e se tornem, ao mesmo tempo, um vibrante apelo da Igreja à misericórdia, de que o homem e o mundo contemporâneo tanto precisam. E precisam dessa misericórdia, mesmo sem muitas vezes o saberem.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)