Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 9 de setembro de 2017

Homilia Santa Missa em Medelín

Queridos irmãos e irmãs!

Na Missa de quinta-feira em Bogotá, ouvimos a chamada de Jesus aos seus primeiros discípulos; esta parte do evangelho de Lucas, que começa com aquela narração, culmina com a chamada dos Doze. Entre estes dois acontecimentos, que nos recordam os evangelistas? Recordam que este caminho de seguimento supôs nos primeiros seguidores de Jesus muito esforço de purificação. Alguns preceitos, proibições e mandamentos davam-lhes segurança; cumprir determinados ritos e práticas dispensava-os da preocupação de se interrogar: Que agrada ao nosso Deus? Jesus, o Senhor, indica-lhes que obedecer é caminhar atrás d’Ele, o que os fazia deparar com leprosos, paralíticos, pecadores. Estas realidades requeriam muito mais do que uma receita, uma norma estabelecida. Aprenderam que ir atrás de Jesus implica outras prioridades, outras considerações para servir a Deus. Para o Senhor, como também para a primitiva comunidade, é de suma importância que, se nos dizemos discípulos, não estejamos agarrados a um certo estilo, a certas práticas que nos aproximam mais do modo de ser dalguns fariseus de então que do modo de ser de Jesus. A liberdade de Jesus contrasta com a falta de liberdade dos doutores da lei daquele tempo, que estavam paralisados por uma interpretação e prática rigoristas da lei. Jesus não Se limita a uma atuação aparentemente «correta», mas leva a lei à sua plenitude; e, por isso, quer colocar-nos nessa direção, nesse estilo de seguimento que implica ir ao essencial, renovar-se e envolver-se. São três atitudes que devemos plasmar na nossa vida de discípulos.

A primeira: ir ao essencial. Isto não significa «cortar com tudo» o que não se nos adapta, pois Jesus também não veio revogar a lei, mas levá-la à sua plenitude (cf. Mt 5, 17); trata-se, antes, de caminhar em profundidade rumo ao que conta e tem valor para a vida. Jesus ensina que a relação com Deus não pode ser uma fria aderência a normas e leis, nem o cumprimento de certos atos exteriores que não conduzem a uma mudança real de vida. O nosso discipulado não pode ser motivado simplesmente por um costume, porque dispomos dum certificado de batismo, mas deve partir duma experiência viva de Deus e do seu amor. O discipulado não é algo de estático, mas um movimento contínuo para Cristo; não é simplesmente a aderência à explicitação duma doutrina, mas a experiência da presença amorosa, viva e operante do Senhor, uma aprendizagem permanente através da escuta da sua Palavra. E esta Palavra, como ouvimos, impõe-nos cuidar das necessidades concretas dos nossos irmãos: pode ser a fome de quem vive ao nosso lado (assim o vimos no texto proclamado hoje: cf. Lc 6, 1-5), ou a doença como se vê na narração que Lucas apresenta a seguir.

A segunda palavra: renovar-se. Como Jesus «instava» com os doutores da lei para que saíssem da sua rigidez, também agora a Igreja é «instada» pelo Espírito para que deixe as suas comodidades e amarras. A renovação não nos deve meter medo. A Igreja está sempre em renovação (Ecclesia semper reformanda). Não se renova como lhe apetece, mas fá-lo «sólida e firme na fé, sem se deixar afastar da esperança do Evangelho que ouviu» (cf. Col 1, 23). A renovação implica sacrifício e coragem, não para nos considerarmos melhores ou impecáveis, mas para respondermos melhor à chamada do Senhor. O Senhor do sábado, a razão de ser de todos os nossos mandamentos e preceitos, convida-nos a ponderar as normas quando está em jogo segui-Lo a Ele; quando as suas chagas abertas, o seu grito de fome e sede de justiça nos interpelam e impõem respostas novas. E, na Colômbia, há tantas situações que reclamam, dos discípulos, o estilo de vida de Jesus, particularmente o amor traduzido em atos de não-violência, de reconciliação e de paz.

A terceira palavra: envolver-se. Envolver-se, ainda que para alguns isso pareça sujar-se, manchar-se. Como David e os seus homens que entraram no templo porque tinham fome e os discípulos de Jesus entraram na seara e comeram as espigas, também hoje nos é pedido que cresçamos em ousadia, numa coragem evangélica que brota de saber que são muitos os que têm fome, fome de Deus, fome de dignidade, porque dela foram despojados. E, como cristãos, ajudá-los a saciar-se de Deus; não lhes dificultar nem proibir esse encontro. Não podemos ser cristãos que levantam continuamente a bandeira de «Passagem Proibida», nem considerar que esta parcela é minha, apoderando-me de algo que absolutamente não é meu. A Igreja não é nossa, é de Deus; Ele é o dono do templo e da seara; todos têm um lugar, todos são convidados a encontrar, aqui e entre nós, o seu alimento. Somos meros «servidores» (cf. Col 1, 23) e não podemos ser quem dificulta esse encontro. Pelo contrário, Jesus pede-nos como fez aos seus discípulos: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mt 14, 16); tal é o nosso serviço. Bem compreendeu isto Pedro Claver, que celebramos hoje na Liturgia e, amanhã, venerarei em Cartagena. «Escravo dos negros para sempre»: foi o seu lema de vida, porque compreendeu, como discípulo de Jesus, que não podia ficar indiferente perante o sofrimento dos mais abandonados e ultrajados do seu tempo, mas tinha de fazer algo para o aliviar.

Irmãos e irmãs, a Igreja na Colômbia é chamada a comprometer-se, com mais ousadia, na formação de discípulos missionários, como foi indicado por nós, Bispos reunidos em Aparecida no ano de 2007. Discípulos que saibam ver, julgar e agir, como propunha aquele documento latino-americano que nasceu nestas terras (cf. Medellín, 1968). Discípulos missionários que sabem ver sem miopias hereditárias; que examinam a realidade com os olhos e o coração de Jesus, e julgam a partir daí. E que arriscam, atuam, comprometem-se.

Vim aqui precisamente para vos confirmar na fé e na esperança do Evangelho: permanecei firmes e livres em Cristo, de tal modo que O espelheis em tudo o que fizerdes; abraçai com todas as vossas forças o seguimento de Jesus, conhecei-O, deixai-vos convocar e instruir por Ele, anunciai-O com grande alegria.

Peçamos por intercessão da nossa Mãe, Nossa Senhora da Candelária, que nos acompanhe no nosso caminho de discípulos, para que, colocando a nossa vida em Cristo, sejamos simplesmente missionários que levem a todos a luz e a alegria do Evangelho.

Felicidade

Para mim o que é a felicidade?

Diria que, sobretudo, é uma satisfação íntima, interior, que me traz tranquilidade.

Parece uma definição simples e pouco elaborada
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Não cedo à tentação de entrar em considerandos mais ou menos subjectivos – mas nem por isso menos verdadeiros – e volto, portanto a afirmar: ser feliz é estar tranquilo.

É que, na verdade, não me parece, que possa existir uma coisa sem a outra, ou, talvez melhor dito, não é possível ser feliz sem estar tranquilo.

A tranquilidade pode resumir-se na certeza de que o que faço, penso ou desejo, é exequível, está ao meu alcance, não num futuro qualquer que não sei se existirá, mas hoje, agora!

Assim, o que possa desejar será, em princípio absolutamente legítimo mas, mais que isso, lógico porque se trata de que o que sinto – sei de certeza - me faz falta para ficar mais coerente, humano, atingindo a unidade de vida com que sonho.

Repito: faz-me falta!

Talvez que aqui esteja a “chave” da questão: o que me faz falta para ser o que desejo ser.

Logo, para mim, a felicidade, é este conhecimento, esta certeza: Unidade de vida!

(ama, reflexões, 23.06.2016)

O optimismo cristão

Temos de ser optimistas, mas com um optimismo que nasce da fé no poder de Deus.

O optimismo cristão não é um optimismo adocicado, nem tão pouco uma confiança humana em que tudo correrá bem.
É um optimismo que mergulha as suas raízes na consciência da liberdade e na segurança do poder da graça; um optimismo que leva a exigirmo-nos a nós próprios, a esforçarmo-nos por corresponder em cada instante aos chamamentos de Deus. (Forja, 659)

Tarefa do cristão: afogar o mal em abundância de bem. Nada de fazer campanhas negativas, nem de ser anti-nada. Pelo contrário: viver de afirmação, cheios de optimismo, com juventude, alegria e paz; olhar para todos com compreensão: os que seguem Cristo e os que O abandonam ou não O conhecem.
Compreensão, porém, não significa abstencionismo, nem indiferença, mas actividade. (Sulco, 864)

O Senhor – repito – deu-nos o mundo por herança. Temos de ter a alma e a inteligência despertas; temos de ser realistas, sem derrotismos. Só uma consciência cauterizada, só a insensibilidade produzida pela rotina, só o estouvamento frívolo podem permitir que se contemple o mundo sem ver o mal, a ofensa a Deus, o dano por vezes irreparável para as almas. É preciso sermos optimistas, mas com um optimismo que nasça da fé no poder de Deus – Deus não perde batalhas – com um optimismo que não proceda da satisfação humana, duma complacência néscia e presunçosa. (Cristo que passa, 123)

A alegria, o optimismo sobrenatural e humano, são compatíveis com o cansaço físico, com a dor, com as lágrimas – porque temos coração –, com as dificuldades na nossa vida interior ou na tarefa apostólica.
Ele, «perfectus Deus, perfectus homo», perfeito Deus e perfeito homem, que tinha toda a felicidade do Céu, quis experimentar a fadiga e o cansaço, o pranto e a dor..., para que percebermos que para ser sobrenaturais temos de ser muito humanos. (Forja, 290)

Nosso Senhor quis que os seus filhos, que recebemos o dom da fé, manifestemos a visão optimista original da criação, o «amor ao mundo» que palpita no cristianismo.
Portanto, não deve faltar nunca entusiasmo no teu trabalho profissional nem no teu empenho por construir a cidade temporal. (Forja, 703)

Esse desalento, porquê? Pelas tuas misérias? Pelas tuas derrotas, às vezes contínuas? Por uma queda grande, grande, que não esperavas?
Sê simples. Abre o coração. Olha que não está tudo perdido. Ainda podes continuar, e com mais amor, com mais carinho, com mais fortaleza.
Refugia-te na filiação divina: Deus é teu Pai amantíssimo. Esta é a tua segurança, o ancoradouro onde lançar a âncora, aconteça o que acontecer na superfície deste mar da vida. E encontrarás alegria, força, optimismo, vitória! (Via Sacra, 7, 2)

Dantes eras pessimista, indeciso e apático. Agora, estás totalmente transformado: sentes-te audaz, optimista, seguro de ti mesmo..., porque finalmente te decidiste a buscar o teu apoio só em Deus. (Sulco, 426)

São Josemaría Escrivá

Teresa de Calcutá e Diana de Gales, 20 anos depois

Queira Deus que a vida infeliz de Diana e a sua tristíssima morte tenham desmentido, de uma vez por todas, o disparatado conto da menina que, por casar com um príncipe, é muito feliz para sempre.

Foi no dia 5 de Setembro de 1997 que o mundo foi surpreendido com a morte da Madre Teresa de Calcutá, fundadora das Missionárias da Caridade e prémio Nobel da Paz, que a 26 de Agosto completara 87 anos. Alguns dias antes, mais precisamente no último dia do mês de Agosto desse ano, uma outra notícia chocante, no sentido mais literal e dramático do termo, causou consternação mundial: Diana Spencer, princesa de Gales pelo seu casamento com o herdeiro do trono britânico, morreu em Paris, vítima de um brutal acidente automobilístico.

Há quem diga que, para Deus, não há coincidências. A verdade é que nada faria suspeitar que aquelas duas pessoas tão diferentes, se iriam encontrar em vida e também na hora da morte. Com efeito, não obstante pertencerem a diferentes confissões cristãs, a princesa Diana tinha procurado na Madre Teresa algum apoio. Por sua vez, a santa dos mendigos de Calcutá morreu quando estava, precisamente, a preparar uma cerimónia religiosa em sufrágio da sua amiga Diana, falecida apenas uns dias antes. Não era de esperar esta amizade, mas a fama da benemérita religiosa católica já há muito tinha ultrapassado as fronteiras da sua Igreja, sendo mundialmente reconhecida e respeitada pela sua santidade. Também foi, como é da praxe em relação aos verdadeiros discípulos de Cristo, violentamente criticada, sobretudo pela sua denúncia dos excessos da sociedade consumista e pela sua corajosa defesa do direito à vida dos nascituros.

Diana Frances Spencer, também conhecida por Lady Di, e Agnes Gonxhe Bojaxhiu que, em religião, foi a Madre Teresa de Calcutá, estavam, em termos humanos, nos antípodas: Diana era jovem, elegante, bonita e princesa; Teresa era idosa, pequenina, e – que me desculpem os que, como eu, são devotos da santa – bastante feia. Enquanto Diana vivia entre reis e príncipes, morava em palácios reais, vestia lindamente e usava diademas e outras jóias magníficas, Teresa de Calcutá percorria os bairros de lata, entre os mendigos mais miseráveis, sempre vestida com o seu pobre sari branco debruado a azul, com um único adereço: um pequeno crucifixo ao ombro.

Paradoxo: aquela que tudo tinha para ser feliz, não o era; e, aquela que nada tinha do que muitos entendem indispensável para a felicidade, era felicíssima! Com efeito, a princesa, apesar de todo o glamour e esplendor da sua condição real, era uma pessoa profundamente infeliz, mas a pequenina religiosa, sem quaisquer bens, nem beleza que atraísse, irradiava uma alegria que a ninguém deixava indiferente.

No momento do acidente fatal, dadas também as circunstâncias trágicas em que o mesmo ocorreu – curiosamente, no parisiense túnel d’Alma! – foram inúmeras as manifestações de pesar pela morte da princesa de Gales. Com a morte de Teresa de Calcutá aconteceu outro tanto e, desde então, a sua popularidade só tem aumentado, graças também à sua beatificação em 2003, escassos seis anos depois da sua morte. Treze anos depois, em 2016, Agnes Bojaxhiu foi canonizada, depois de comprovado, científica e teologicamente, mais um milagre atribuído à sua intercessão.

Vinte anos volvidos sobre a tragédia que vitimou a princesa Diana e sobre a santa morte da Madre Teresa de Calcutá, talvez seja hora de fazer o balanço, certamente provisório, destas duas vidas tão diferentes que Deus, mais do que o calendário, juntou no seu derradeiro momento. Talvez seja chegada a altura de reconhecer que os nossos sonhos de poder, riqueza, fama e beleza mais não são do que pesadelos do egoísmo, porque incapazes de encher de felicidade o coração humano. Mas, quantas jovens, se lhes fosse dado escolher ser Diana de Gales ou Teresa de Calcutá, fariam sua esta última opção?! Quantos pais, até católicos, prefeririam uma filha missionária da caridade a uma filha princesa do Reino Unido?!

Talvez a infeliz vida e tristíssima morte de Diana de Gales tenha desmentido, de uma vez por todas, o disparatado conto da menina que, qual gata borralheira, casa com um príncipe e é muito feliz para sempre. Talvez seja chegado o momento de reconhecer, neste vigésimo aniversário da morte de Santa Teresa de Calcutá e da princesa Diana, que a verdadeira felicidade não está na beleza, nem na fama, nem na riqueza, nem na saúde, nem na juventude ou na elegância, mas em amar, mesmo quando se é pobre, velho, sem beleza física e, até, se vive entre os mais pobres dos pobres.

Também pode haver, e é urgente que haja, muitas princesas e rainhas santas, como a Rainha Santa Isabel de Portugal e a Santa Joana, princesa, bem como ‘primeiras damas’, governantes e deputadas que sejam igualmente virtuosas. O importante não é ter, mas ser; não é brilhar, mas servir; não é procurar a própria felicidade, mas fazer felizes os outros porque, como Jesus Cristo ensinou há dois mil anos, há mais alegria em dar do que em receber (Act 20, 35).

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Observador de 09.09.2017
(seleção de imagem 'Spe Deus')

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz (breviário)

Onde há ódio, que eu leve o Amor;
Onde há ofensa, que eu leve o Perdão;
Onde há discórdia, que eu leve a união;
Onde há dúvida, que eu leve a Fé.

Onde há erro, que eu leve a Verdade;
Onde há desespero, que eu leve a Esperança;
Onde há tristeza, que eu leve a Alegria;
Onde há trevas, que eu leve a Luz.

Oh Mestre, fazei que eu procure menos
Ser consolado do que consolar;
Ser compreendido do que compreender;
Ser amado do que amar.

Porque é dando que se recebe;
É perdoando que se é perdoado;
É morrendo que se ressuscita
Para a Vida Eterna.

O perdão vem-nos da misericórdia de Deus

Escreves-me, dizendo que te aproximaste por fim do confessionário, e que sentiste a humilhação de ter de abrir a cloaca (é assim que o dizes) da tua vida diante de "um homem". Quando arrancarás essa vã estima por ti mesmo? Então irás à Confissão contente por te mostrares como és, diante "desse homem" ungido (outro Cristo, o próprio Cristo!) que te dá a absolvição, o perdão de Deus. (Sulco, 45)

Padre: como pode suportar todo este lixo? – disseste-me, depois de uma confissão contrita.

Calei-me, pensando que, se a tua humildade te leve a sentires-te isso – lixo, um montão de lixo – ainda poderemos fazer algo de grande de toda a tua miséria. (Caminho, 605)

Que pouco Amor de Deus tens quando cedes sem luta porque não é pecado grave! (Caminho, 328)

De novo às tuas antigas loucuras!... E depois, quando regressas, sentes-te com pouca alegria, porque te falta humildade.

Parece que te obstinas em desconhecer a segunda parte da parábola do filho pródigo, e ainda continuas apegado à pobre felicidade das bolotas. Soberbamente ferido pela tua fragilidade, não te decides a pedir perdão, e não reparas que, se te humilhares, te espera o jubiloso acolhimento do teu Pai, Deus: a festa do teu regresso e do teu recomeço! (Sulco, 65)

São Josemaría Escrivá

O Evangelho de Domingo dia 10 de setembro de 2017

Se teu irmão pecar contra ti, vai e corrige-o entre ti e ele só. Se te ouvir, ganhaste o teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que pela palavra de duas ou três testemunhas se decida toda a questão. Se não as ouvir, di-lo à Igreja. Se não ouvir a Igreja considera-o como um gentio e um publicano. «Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no céu; e tudo o que desligardes sobre a terra, será desligado no céu. «Ainda vos digo que, se dois de vós se unirem entre si sobre a terra a pedir qualquer coisa, esta lhes será concedida por Meu Pai que está nos céus. Porque onde se acham dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles».

Mt 18, 15-20

São Josemaría Escrivá nesta data em 1931

Face aos sintomas de uma dolorosa prova interior que se prolongará ao longo do Outono deste ano, escreve: “Estou com uma tribulação e um desamparo grandes. Motivos? Na verdade, os de sempre. Mas é uma coisa pessoalíssima que, sem me tirar a confiança no meu Deus, me faz sofrer, porque não vejo solução humana possível para a minha situação. Apresentam-se tentações de rebeldia: e digo: serviam! [servirei]”.

Encontro e paragem junto à Cruz da Reconciliação

Queridos irmãos e irmãs!

Desejei, desde o primeiro dia, que chegasse este momento do nosso encontro. Trazeis no vosso coração e na vossa carne as marcas da história viva e recente do vosso povo, sulcada por acontecimentos trágicos, mas cheia também de gestos heroicos de grande humanidade e de alto valor espiritual de fé e esperança. Venho aqui com respeito e bem ciente de me encontrar, como Moisés, pisando uma terra sagrada (cf. Ex 3, 5). Uma terra regada com o sangue de milhares de vítimas inocentes e a dor angustiante dos seus familiares e conhecidos. Feridas que custam a cicatrizar e que nos fazem sofrer a todos, porque cada ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na carne da humanidade; cada morte violenta «diminui-nos» como pessoas.

Estou aqui não tanto para falar, mas para estar perto de vós e fixar-vos nos olhos, para vos escutar e abrir o meu coração ao vosso testemunho de vida e fé. E, se mo permitis, desejaria também abraçar-vos e chorar convosco, queria que rezássemos juntos e nos perdoássemos – também eu devo pedir perdão – e que assim, todos juntos, pudéssemos olhar em frente e avançar com fé e esperança.

Reunimo-nos aos pés do Crucificado de Bojayá, que, no dia 2 de maio de 2002, presenciou e sofreu o massacre de dezenas de pessoas refugiadas na sua igreja. Esta imagem possui um forte valor simbólico e espiritual. Ao fixá-la, contemplamos não só o que aconteceu naquele dia, mas também tanto sofrimento, tanta morte, tantas vidas destroçadas e tanto sangue derramado na Colômbia nos últimos decénios. Ver Cristo assim, mutilado e ferido, interpela-nos. Não tem braços e o seu corpo já não está inteiro, mas conserva o seu rosto e, com ele, olha-nos e ama-nos. Cristo partido e amputado, para nós, ainda é «mais Cristo», porque mostra-nos uma vez mais que Ele veio para sofrer pelo seu povo e com o seu povo, e também para nos ensinar que o ódio não tem a última palavra, que o amor é mais forte do que a morte e a violência. Ensina-nos a transformar o sofrimento em fonte de vida e ressurreição, para que, unidos a Ele e com Ele, aprendamos a força do perdão, a grandeza do amor.

Agradeço a estes nossos irmãos que quiseram, em nome de muitos outros, compartilhar o seu testemunho. Como nos faz bem ouvir as histórias deles! Deixam-me comovido. São histórias de sofrimento e amargura, mas também, e sobretudo, histórias de amor e perdão, que nos falam de vida e esperança, de não deixar que o ódio, a vingança e a dor se apoderem do nosso coração.

O oráculo final do Salmo 85 – «O amor e a fidelidade vão encontrar-se. Vão beijar-se a justiça e a paz» (v. 11) – aparece depois da ação de graças e da súplica onde se pede a Deus: Renovai-nos! Obrigado, Senhor, pelo testemunho daqueles que infligiram dor e pedem perdão; daqueles que sofreram injustamente e perdoam. Isto é possível com a vossa ajuda e a vossa presença. Isto já é um sinal enorme de que quereis reconstruir a paz e a concórdia nesta terra colombiana.

Pastora Mira, disseste-lo muito bem: Queres colocar todo o sofrimento, teu e o de milhares de vítimas, aos pés de Jesus Crucificado, para que se una ao d’Ele e, assim, se transforme em bênção e capacidade de perdão para romper o ciclo de violência que imperou na Colômbia. Tens razão: a violência gera mais violência, o ódio mais ódio, e a morte mais morte. Temos de quebrar esta corrente que aparece como inelutável, e isto é possível apenas com o perdão e a reconciliação. Tu, querida Pastora, e muitos outros como tu demonstraram que é possível. Sim, com a ajuda de Cristo vivo no meio da comunidade, é possível vencer o ódio, é possível vencer a morte, é possível começar de novo e dar vida a uma Colômbia nova. Obrigado, Pastora! Como é grande o bem que hoje nos fazes a todos com o testemunho da tua vida. Foi o Crucificado de Bojayá que te deu a força de perdoar e amar, e te ajudou a ver, na camisa que a tua filha Sandra Paula deu de prenda ao teu filho Jorge Aníbal, não só a recordação das suas mortes, mas também a esperança de que a paz triunfe definitivamente na Colômbia.

Comoveu-nos também o que disse Luz Dary no seu testemunho: as feridas do coração são mais profundas e difíceis de sanar do que as do corpo. É mesmo assim. E – o que é mais importante – deste-te conta de que não se pode viver no rancor, de que o amor liberta e constrói. E deste modo começaste a curar também as feridas doutras vítimas, a reconstruir a sua dignidade. O facto de saíres de ti mesma enriqueceu-te, ajudou-te a olhar em frente, a encontrar paz e serenidade e um motivo para continuar a caminhar. Agradeço-te a muleta que me ofereces. Embora permaneçam ainda sequelas físicas das tuas feridas, o teu caminhar espiritual é desimpedido e firme, porque pensas nos outros e queres ajudá-los. Esta tua muleta é símbolo doutra muleta mais importante, de que todos nós precisamos: o amor e o perdão. Com o teu amor e o teu perdão, estás a ajudar muitas pessoas a caminhar na vida. Obrigado!

Desejo agradecer também o eloquente testemunho de Deisy e Juan Carlos. Fizeram-nos compreender que no fim de contas, duma forma ou doutra, todos somos vítimas, inocentes ou culpados, mas todos vítimas. Todos irmanados naquela perda de humanidade que a violência e a morte comportam. Disse-o claramente Deisy: compreendeste que tu própria foste uma vítima e precisavas que te fosse concedida uma oportunidade. Começaste a estudar, e agora trabalhas para ajudar as vítimas e para que os jovens não caiam nas malhas da violência e da droga. Há esperança também para quem fez o mal; nem tudo está perdido. É verdade que, na regeneração moral e espiritual dos verdugos, tem que se cumprir a justiça. Como disse Deisy, deve-se contribuir positivamente para sanar a sociedade que foi lacerada pela violência.

É difícil aceitar a mudança daqueles que fizeram apelo à violência cruel para promover os seus fins, proteger tráficos ilícitos e enriquecer-se ou por acreditar, ilusoriamente, que estavam a defender a vida dos seus irmãos. É certamente um desafio para cada um de nós confiar que possam dar um passo em frente aqueles que infligiram sofrimento a comunidades inteiras e a todo o país. É claro que, neste campo enorme que é a Colômbia, ainda há espaço para o joio... Estai atentos aos frutos! Cuidai do trigo e não percais a paz por causa do joio. O semeador, quando vê desabrochar o joio no meio do trigo, não tem reações alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, embora aparentemente sejam imperfeitos ou defeituosos (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 24). Mesmo se perdurarem conflitos, violência ou sentimentos de vingança, não impeçamos que a justiça e a misericórdia se unam num abraço que assuma a história de sofrimento da Colômbia. Curemos aquele sofrimento e acolhamos todo o ser humano que cometeu delitos, reconhece-os, arrepende-se e compromete-se a reparar, contribuindo para a construção duma ordem nova onde brilhem a justiça e a paz.

Como Juan Carlos deixou vislumbrar no seu testemunho, em todo este processo – longo, difícil mas rico de esperança de reconciliação – é indispensável também assumir a verdade. É um desafio grande, mas necessário. A verdade é uma companheira inseparável da justiça e da misericórdia. Se, por um lado, são essenciais, juntas, para construir a paz, por outro, cada uma delas impede que as restantes sejam adulteradas e se transformem em instrumentos de vingança contra quem é mais frágil. De facto, a verdade não deve levar à vingança, mas antes à reconciliação e ao perdão. A verdade é contar às famílias dilaceradas pela dor o que aconteceu aos seus parentes desaparecidos. A verdade é confessar o que aconteceu aos menores recrutados pelos agentes de violência. A verdade é reconhecer o sofrimento das mulheres vítimas de violência e de abusos.

Por fim queria, como irmão e como pai, dizer: Colômbia, abre o teu coração de povo de Deus e deixa-te reconciliar. Não tenhas medo da verdade nem da justiça. Queridos colombianos, não tenhais medo de pedir e oferecer o perdão. Não oponhais resistência à reconciliação que vos faz aproximar uns dos outros, reencontrar-vos como irmãos e superar as inimizades. É hora de sanar feridas, lançar pontes, limar diferenças. É hora de apagar os ódios, renunciar às vinganças e abrir-se à convivência baseada na justiça, na verdade e na criação duma autêntica cultura do encontro fraterno. Oxalá possamos habitar em harmonia e fraternidade, como o Senhor quer. Peçamos para ser construtores de paz; que, onde houver ódio e ressentimento, possamos colocar amor e misericórdia (cf. Oração atribuída a São Francisco de Assis)!

Quero depor todas estas intenções diante da imagem do Crucificado, o Cristo negro de Bojayá:

Ó Cristo negro de Bojayá,
que nos lembrais a vossa paixão e morte;
juntamente com os vossos braços e pés
arrancaram-Vos os vossos filhos
que em Vós procuravam refúgio.
Ó Cristo negro de Bojayá,
que nos olhais com ternura
e com rosto sereno;
que o vosso coração palpite também
para nos acolher no vosso amor.
Ó Cristo negro de Bojayá,
fazei que nos comprometamos
a restaurar o vosso corpo. Que sejamos
os vossos pés para ir ao encontro
do irmão necessitado;
os vossos braços para abraçar
quem perdeu a sua dignidade;
as vossas mãos para abençoar e consolar
quem chora na solidão.
Fazei que sejamos testemunhas
do vosso amor e da vossa misericórdia infinita.

O Evangelho do dia 9 de setembro de 2017

Num sábado, passando Jesus pelas searas, os Seus discípulos colhiam espigas e debulhando-as nas mãos, as comiam. Alguns dos fariseus disseram-lhes: «Porque fazeis o que não é permitido aos sábados?». Jesus respondeu-lhes: «Não lestes o que fez David, quando teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, tomou os pães da proposição, comeu deles e deu aos seus companheiros, embora não fosse permitido comer deles senão aos sacerdotes?». Depois acrescentou: «O Filho do Homem é Senhor também do sábado».

Lc 6, 1-5